6/29/2005 

Loop Genético

O ser humano é redondamente burro e carrega em si uma toxina de repetição absurdamente desprezível.

É favor decorar:
Se o big-bang se desse hoje à noite, amanhã iriamos acordar que nem uns idiotas chapados e continuar a repetir os mesmos erros de que nos queixamos constantemente.
Iriamos continuar com a mesma postura em relação aos colegas de trabalho, família, mulher, filhos, amigos, whatever. Porquê? Porque é mais fácil e já estamos habituados a ser assim. É um verdadeira descanso ser nós próprios. Os mesmos previsíveis seres deambulantes numa rotina pre-concebida, com destinos cuidadosamente delineados ao fim do túnel. Que maravilha!

Mas é isso que queremos, continuar na "cepa torta"? Ser mais um humanozinho-macacóide igual a tantos outros?
Não. Claro que não. Por isso somos insatisfeitos por natureza!

É FAVOR meter na cabeça que as relações que temos com os nossos PAIS/FAMILIA na fase de crescimento não são PADRÕES estanques e irrefutáveis. Existe uma chance de mudar a mentalidade colectiva e essa mudança começa AQUI e CONTIGO.
Temos a tendência de viver o filme mais do que 1x. Como se, geneticamente falando, nos corresse no sangue um virus que diz "Segue o mesmo padrão, it's safe! Desta forma não te enganas!". Está errado!

Pensamento-chave:
Devemos procurar entender o que sentimos e habitualmente aquilo que nos satisfaz é o oposto daquilo que somos em essência.

Não deixem a k7 rebobinar e voltar ao início, estamos programados para entrar em loop. O desafio é abanar a estructura interna e propor novos desafios. Procurar fazer/descobrir facetas que nos sejam desconhecidas. Procurar pessoas diferentes de nós em essência.
As relações humanas podem ser extraordinárias se vivenciadas que nem um jogo aberto onde o ego é aniquilado a cada milésimo de segundo... E o quotidiano pode ser uma crescente vontade e aceitação de mudança, mudança essa TOTALMENTE dirigida por uma VONTADE PESSOAL e CONSCIENTE.

E para evitar o loop o que fazer?
Ser verdadeiramente sincero.

Quero sentir dinâmica e ver pessoas VIVAS que sejam fonte de inspiração. Estou cansado de admirar pessoas mortas. É tempo de ser autêntico e criar novos role-models para quem nos segue.

6/24/2005 

Tu que rastejas...

...Morde-me. Sai detrás dessa pedra, mistura-te com o chão que te prende e aquece o sangue e vem até mim.
Morde-me na pele morena e quente.
Concede-me a faculdade não humana de existir sem questionar.
Morde-me com força e apaga de vez a doença da racionalidade, desejo, causa e memória.
Tu que rastejas, cospe-me nos olhos e ensina-me a andar sem ver. Diz-me como é respirar o agora e habitar no logo-se-vê.
Que da tua boca para o meu braço e da minha boca para a tua cantemos em alegre sinfonia o desespero da doença.
Morde-me na perna para que possa ver o mundo com outros olhos, tu que rastejas e serpenteias mostra-me como é ser eficaz e detentor de um poder puramente instintivo, biológico e ao qual não se pode escapar.
Tu que rastejas, aperta-me ao ponto de asfixia para que saiba como é ser fatal, sedutor e impiedosamente cruel.
Tu que danças nas ervas misteriosamente escondida, partilha comigo como é ser fruto de séculos sem cura, terras sem dono, caminhos sem trilho.

Morde-me e prova o sangue contaminado por gerações de erros, em células tragicamente repetidas, sente como é ser grande, não conhecer limites e não obstante não usufruir desse conhecimento ilimitado.
Rastejar dá-te a possibilidade de sonhar alto e contornar os obstáculos ao invés de saltar, nós do alto vemos a pedra e continuamos a atirá-la para o charco pensando que temos força e que assim a deixamos de ter à nossa frente...
Troca a pele e poupa o teu veneno... Tu que rastejas... És nobre e vil.

 

Sunscreen Speech

Ladies and Gentlemen of the class of ?9...Wear sunscreen.

If I could offer you only one tip for the future, sunscreen would be it. The long term benefits of sunscreen have been proved by scientists, whereas the rest of my advice has no basis more reliable than my own meandering experience. I will dispense this advice now.

Enjoy the power and beauty of your youth; oh nevermind; you will not understand the power and beauty of your youth until they have faded. But trust me, in 20 years you'll look back at photos of yourself and recall in a way you can't grasp now how much possibility lay before you and how fabulous you really looked...You're not as fat as you imagine.

Don't worry about the future; or worry, but know that worrying is as effective as trying to solve an algebra equation by chewing bubblegum. The real troubles in your life are apt to be things that never crossed your worried mind; the kind that blindside you at 4pm on some idle Tuesday.

Do one thing everyday that scares you.

Sing.

Dont' be reckless with other peoples hearts, don't put up with people who are reckless with yours.

Floss.

Don't waste your time on jealousy; sometimes you're ahead, sometimes you're behind... The race is long, and in the end it's only with yourself.

Remember the compliments you receive, forget the insults; if you succeed in doing this, tell me how.

Keep your old love letters, throw away your old bank statements.

Stretch.

Don't feel guilty if you don't know what to do with your life... The most interesting people I know didn't know at 22 what they wanted to do with their lives, some of the most interesting 40 year olds I know still don't.

Get plenty of calcium.

Be kind to your knees, you'll miss them when they're gone.

Maybe you'll marry, maybe you won't, maybe you'll have children, maybe you won't, maybe you'll divorce at 40, maybe you'll dance the funky chicken on your 75th wedding anniversary...What ever you do, don't congratulate yourself too much or berate yourself either - your choices are half chance, so are everybody elses.

Enjoy your body, use it every way you can...Don't be afraid of it, or what other people think of it, its the greatest instrument youl'l ever own.

Dance... Even if you have nowhere to do it but in your own living room.

Read the directions, even if you don't follow them.

Do NOT read beauty magazines, they will only make you feel ugly.

Get to know your parents, you'll never know when they'll be gone for good. Be nice to your siblings; they are the best link to your past and the people most likely to stick with you in the future.

Understand that friends come and go, but for the precious few you should hold on. Work hard to bridge the gaps in geography in lifestyle because the older you get, the more you need the people you knew when you were young.

Live in New York City once, but leave before it makes you hard; live in Northern California once, but leave before it makes you soft.

Travel.

Accept certain inalienable truths, price will rise, politicians will philander, you too will get old, and when you do you'll fantasize that when you were young prices were reasonable, politicians were noble and children respected their elders.

Respect your elders.

Don't expect anyone else to support you. Maybe you have a trust fund, maybe you have a wealthy spouse; but you never know when either one might run out.

Don't mess too much with your hair, or by the time it's 40, it will look 85.

Be careful who advice you buy, but be patient with those who supply it. Advice is a form of nostalgia, dispensing it is a way of fishing the past from the disposal, wiping it off, painting over the ugly parts and recycling it for more than its worth.

But trust me on the sunscreen..

- Baz Luhrman

6/21/2005 

Mão Morta

Estiquei a pele até rasgar os tecidos fibrosos dos braços. Escorria-me água dos olhos mas não abri a palma da mão com medo de talvez não a conseguir voltar a fechar. Os músculos termiam num misto de força anormal e nervosismo exacerbado, ainda hoje tento compreender se numa situação habitual conseguiria aguentar tal força naqueles breves mas longos instantes.
Senti o suór tomar conta de cada póro da palma da mão, fazendo com que escorregasse e perdesse aderência com a outra, que estava fria e mole, talvez tivesse desistido ou estivesse apenas cansada.
Olhei confiante e aguentei, senti que conseguia suster aquele momento por mais um bocadinho, era o mais importante de tudo e se fosse a última coisa que fizesse teria de me comprometer seriamente para não me arrepender quiça noutra vida. A cabeça parecia explodir, as veias do pescoço inchavam e o braço faltava pouco para transpor o limite do humanamente saudável e dormente.
Fechei os olhos na esperança de prolongar o tempo, como se fosse uma criança que ao fechar os olhos na brincadeira deixa de ver e como tal pensa não ser vista.
No escuro senti água escorrer-me da testa pelo nariz, chegando aos lábios, mas nem abrir a boca eu podia pois iria contribuir para um desgaste adicional. O ritmo cardíaco estava agora num grau tão acelarado que deixou de ser pulsão passando apenas a uma vaga de calor que lavava o corpo dos pés às pontas dos cabelos. Deixei de ter controle físico, perdi essa virtude que outrora me gavaba.
E o escuro não era realmente negro, mas povoado por pigmentos e manchas psicadélicas multicolores que acompanhavam o ritmo dessa mesma onda infernal de calor que aos poucos roubava os sentidos arrastando-me para um abismo entre o corpo e a mente. Senti-me vibrar fora do corpo.
Não conseguia mais abrir os olhos. A noção do físico era apenas mental, sabia que estava ali mas não me sentia.
Vi a minha mão largar a outra e caír morta na cama. O barulho abafado do braço a esbater nos lençóis marcou o ponto final da existência carnal.
Transformei-me em ser deambulante conhecedor inquestionável do que me pertencia. A outra mão mexeu-se e lavou as lágrimas do rosto. Estava fria. A minha mão não mexeu. O silêncio acutilado rompeu na sala com proveniência daquela mesma mão que marcou o compasso para um novo princípio.
A outra mão termia, estava sozinha.

 

História da Cenoura e do Burro

"... Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar.
Hoje, não. A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis. E um exército de professores explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição.
Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho, as quecas de sonho.
Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima. Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!"

Texto de: João Pereira Coutinho

6/08/2005 

Medo

O sentimento de medo e antecipação é tão próximo e inacreditável como o de génio e loucura.

Não se pode fugir ao medo.

Não vale a pena contornar, saltar por cima, ignorar, fingir, etc etc.
Também não resulta pensar que o medo não exerce poder se não lhe atribuirmos poder. É mambo-jambo. O medo está presente insconcientemente e virá ao de cima quando tiver de acontecer.

A expressão é mesma essa "vir ao de cima". O medo precisa de ser exorcizado, cuspido, tomado pelos cornos, expurgado. Só assim é ultrapassado. E não vale de nada fugir com o rabo à seringa, o que tem de ser tem de ser e tem muita força. Por isso é de certa forma um masoquismo que exercemos connosco próprios ao não lidarmos com o medo. Sabemos que algo está para acontecer e continuamos a empurrar uns dias para a frente, ou a tentar contornar a situação.
A melhor solução é aceitar que se tem medo, abraçar a ideia, e arranjar uma solução.
Basicamente, há que lidar com o medo de uma forma prática e descartável. Que fique claro para cada um.
Toda a gente sente medo a determinada altura da vida, there's nothing wrong with that. Admitir que se tem medo não põe em causa a emocionalidade da pessoa, a força, nem a sexualidade. É bonito ver pessoas com coragem e honestidade a admitirem o que sentem; é um gesto de louvar.

O que também precisa de ser modificado é a atitude em relação ao medo.
O sentimento de medo provém de mecanismos de defesa pessoais que se sentem ameaçados, são perigos exteriores ou mudanças, traumas, ou conflictos pessoais ou interpessoais que precisam de ser resolvidos, e deste assalto ao individuo gera-se um desconforto, violação e mau-estar. Ninguém gosta de se sentir assim a menos que tenham outros problemas ainda maiores.

A coragem, da outra face da moeda, é a purificação pós-medo. Como se acabassemos de limpar o filtro da mente e do espírito. E quando se faz uma limpeza o sistema funciona muito melhor. As engrenagens ficam oleadas, a cabeça funciona de forma limpa e despegada de bloqueios, preconceitos, entraves, receios. Reage-se de forma clara, concisa e objectiva. Consegue-se chegar ao cerne da questão de forma clara e sem rodeios.
É isso que é preciso fazer constantemente, ser verdadeiro e lidar com as coisas como elas são. E as coisas são tão simples!

Tomar uma decisão, escolher um caminho, tomar uma opção são dos momentos mais corajosos e gratificantes que uma pessoa pode ter.
Não há que ter medo de escolher e mudar de trajecto na vida. Onde hoje há água amanhã poderá haver apenas terra, não vale de nada mantermo-nos agarrados a nós mesmos quando o universo continua a girar, criamos fixações pessoais que nos constringem e dificultam avançar.
Tudo é mutável, tudo é alterável, tudo tem retorno, inclusivé o medo, um sentimento tão subjectivo.
Não há que ter medo de enfrentar um familiar, amigo, colega de trabalho. Quando as coisas são postas cá para fora deixam de nos perturbar. Como se tivessemos gás tóxico na cabeça e pulmões e quando se decide tomar uma decisão e falar, e agir, esse gás-tóxico é expelido e o problema passa para a atmosfera, descarregamos aquele peso das nossas costas e passará para outro ambiente, para outra pessoa, ganhará outra forma.

Todos nós temos "problemas". Não se ganha nada é em ver nesses problemas perigo e medo. Pelo contrário, estamos a alimentar o problema na nossa cabeça e a gerar mais obstáculos. E mais uma vez repito, não vale a pena saltar por cima do medo, porque mais à frente vai haver outro medo, e pode bem ser o mesmo mas com outro uniforme.

A solução não é fugir, é compreender, abraçar a ideia de medo e solucioná-la no presente momento da melhor forma que se encontrar.

 

Conduta-Personalidade-Linguagem

Preciso de memorizar isto:

As pessoas têm uma linguagem própria do seu traço de personalidade.
Imaginem, um gajo laid-back e descontraído fala de determinada forma e no seu discurso tenta fazer passar o seu estado de espírito mole e de relax. Um gajo stressado e workaholic provavelmente come palavras e demonstra impaciência no seu discurso, irritando-se com facilidade, e por aí adiante...

Suponhamos que eu sei de antemão que uma pessoa é, por exemplo, irritada. Como lhe devo fazer entender algo sobre ela própria?
Devo falar calmamente e pousadamente com ela, tentando chegar ao âmago da questão OU demonstrar de uma forma esperta como é estar irritado para que ela se veja do exterior?
A resposta é, tá claro, ser irritado como essa pessoa.
A velha história do fight fire with fire ou eye-for-an-eye é verdadeira. E sabem porquê? Porque isso alerta a pessoa em questão da sua personalidade ou conduta.

Imaginemos que sou um adolescente super rebelde, com correntes brilhantes nos bolsos e calças largas (what a picture!), gel na fronha e sempre a chatear os outros putos da minha turma. Só estou bem a fazer mal... Roubo-lhes material escolar, pinto-lhes a roupa, estrago os trabalhos, esse tipo de merdas.
Como é que um gajo fala com um rufia destes? Com calma e sereniedade ou a fazer-lhe as mesmas merdas que ele faz?

É triste concluir que é a fazer-lhe as mesmas merdas é que ele aprende e prova do seu próprio remédio, porque o que acontece é que o rufia troca de posição e passa a ser o puto a quem lhe roubaram o lápis ou lhe pintaram a fronha carregada de gel. Nessa altura ele sente-se mal e injustiçado e talvez tenha o descernimento de topar o quão estúpido tem sido o seu comportamento para com os outros.
É óbvio que isto não é linear. Nem toda a gente se manca logo à primeira, mas o alerta fica feito, respondam da mesma moeda mas com esperteza (não é inteligência, é manha!).
Não é preciso ser um acto directo sobre a pessoa do género de responder a um estalo dando outro, apenas façam um reflexo daquilo que a outra pessoa faz para que esta possa ver/provar/sentir como é ser ela própria. O estalo pode ser dado noutra ocasião noutra pessoa/coisa; ou pode nem ser um estalo, pode ser um comentário a um estalo. Get it?

O complicado não é mostrar a outra pessoa como ela é, o complicado está em encontrar a mesma LINGUAGEM e/ou formas de comunicação que essa pessoa em causa utiliza, pois só assim ela estabelece uma ligação directa consigo mesma.

NOTA: Este processo psicológico altamente conceituado é vulgarmente conhecido como PPA.
Que trocado por miúdos quer dizer, Psicologia do Pénis Alheio - Copyright (C)

 

Espiral

Todos sabemos o nosso fado.

Começo a acreditar piamente que na verdade sabemos os nossos erros e como ultrapassá-los simplesmente temos de ESPERAR que a altura chegue para lhes passar por cima e os ver resolvidos.

Digo isto porque tenho ouvido as pessoas falarem comigo e na verdade estão a falar com elas próprias. Eu faço exactamente o mesmo, por vezes digo coisas a alguém que queria ver realizadas comigo.
Depositam-se desejos, lançam-se sementes, em buracos vazios sem sabermos se alguma vez os iremos encher ou ver crescer.

Ontem eu e o meu pai passamos por um processo de cura. Conversamos em familia e consegui, de cabeça fria e em mim, dizer-lhe o que acho da minha atitude e da dele.
Foi bom, pelo menos meti cá para fora o que sentia, e ele fez o mesmo.
As posições entre nós os dois são tão diferentes: ele sempre agarrado ao orgulho dele, convencendo-se de grandes feitos do passado (alguns deles acho até que são imaginários), projectando todos os sucessos dele em mim. Imaginando-me ainda hoje uma pessoa fechada e reprimida. Não sei se não serei assim mesmo fruto das porradas que ELE levou da vida.
Disse-me coisas bonitas. E teve muita coragem.
E eu... Bom, eu sinto-me quase sempre um espelho reflector colocado no tecto da sala sobre nós dois. Imparcial.

Mas ontem para além da imparcialidade disse o que sentia.
E o melhor foi ouvir o que ele sentia. Precisava de falar.... O meu pai precisa de desabafar e ser reconhecido.
Se eu sou uma pessoa sozinha ele é bem mais do que eu.
Adoro o meu pai e tenho muitas semelhanças com ele, mas não é correcto alguém ser um calendário com furos através do qual os outros devem olhar para saber onde está o prémio.
Fiz-me entender?

Não está correcto ninguém carregar a cruz para que o outro entenda o sentido daquela jornada. Deveriamos ser auto-suficientes e aprender isoladamente. Ou talvez não... Ou talvez esteja totalmente errado e seja esse o motivo das disputas geracionais.
Não existem lapsos geracionais, somos nós que os inventamos.

Volto ao inicio:
Cada um de nós sabe o caminho que tem de percorrer. Nós sabemos os nossos podres e por vezes até conseguimos identificar a origem dos mesmos olhando para outra pessoa, seja ela o Pai, ou o/a companheiro(a).
Temos plantado em nós uma semente que vai crescendo, não a podemos regar em demasia senão apodrece, nem ficar demasiado tempo exposta ao sol.
A semente está lá. Temos de deixá-la crescer serenamente,e ir colocando pausinhos para ela se suportar. Cantar umas músiquinhas para a planta se animar e esperar para ver qual será o fruto que a planta irá dar.

Mas não podemos esperar que seja uma nespereira, e começarmos a sonhar com nésperas. A semente será aquilo que tem de ser, e o crescimento dela é somente dela com ela própria. Se a semente desejar morrer pelo caminho não irá haver nada que possamos fazer para a impedir. Se a semente crescer e desejar ser levada por um pássaro temos de respeitar, amar e desejar as melhores felicidades.

Curam-se anos de mágoas com sinceridade e coragem.
Espero que os "medos" que foram levantados ontem tenham servido um propósito maior e não tenham sido em vão. Não só por mim e pelo meu pai mas por tudo o que se passa na minha vida agora e na vida dele agora. O importante é resolver as coisas AGORA!
Espero que ajude as minhas relações com outras pessoas e as dele também.

Quero muito cortar e acabar com bloqueios que vêem perseguindo a minha família há gerações. Frutos de sementes mal semeadas.
Se tenho a capacidade de "ver por fora", talvez possa resolver determinadas merdas de uma vez por todas e possibilitar uma vida menos complicada aos meus filhos/netos.
Foda-se, o que acabei de escrever! Estou tão errado! Não QUERO plantar nada para ninguém! Não quero que um dia me culpem por ter escolhido um caminho para alguém... Mas é inevitável não é?

É inevitável vivermos sem provocarmos mudanças á nossa volta.
The spiral is endless...

 

Tabuleiro de Xadrez

Um dia beijo a boca da cobra e no dia seguinte a cauda.
Qual é o motivo? O que é que tenho a aprender com isto?

Acordei desanimado.
Sinto que me deitei e adormeci de olhos abertos.

É nestes dias que ponho em causa o movimento das coisas. Se sou eu que controlo os acontecimentos à minha volta ou sou mero fantoche a quem crescem cordas nos braços de um dia para o outro?
Não dou permissão para ser vivido mas também não acredito em remar contra a maré.

Fico na encruzilhada parado. Logo eu que sei sempre para onde vou!

Devo acreditar perdidamente que "as coisas são assim"?
- Não!

Irei esperar para saber se amanhã beijo a boca da cobra ou a cauda?
Ou farei a escolha antes do tempo excluindo as possibilidades que possam surgir?

O comboio não para.
Vou seguir caminho ao lado da linha, logo se vê onde irei parar.

Tudo se irá resolver, I'm on the right track.
Antes assim. . .

6/07/2005 

Iluminação

"Porque é que as crianças têm medo do escuro e os homens da luz?"

A felicidade é incalculável.
Não se consegue prever, suster, criar.
O que é bonito no estado de iluminação é saber que estamos 100% individualizados e em paz com o universo.
A felicidade reside num estado de preenchimento espiritual imesurável que na verdade se reflecte no mundo da matéria em um vazio compreensível.
De repente tudo faz sentido, tudo é motivo para nos sentirmos gratos de existir.
Deixa de haver ansiedade, medo, paranóia, desejos. Está-se simplesmente radiante.

Hoje o sol tocou-me.

6/06/2005 

Human Nature

You can trust me - I mean you no harm
Be no more afraid - I can hold your body
Rest your spirit within me - I can be your home

Everywhere is a place to be
Everyone a stone to move
Everything a gift to open

May the divine child arise - Shine on our hearts freely
Each day like a dream - Closer to our essence

Each walking separate paths
Yet in the same direction
The tide of Nature

 

Distância - Mal Necessário?

Existe qualquer coisa na distância que é a alma do negócio.

Conheces aquela sensação de falta? Quando se tem falta de algo/alguém é que realmente se dá importância a essa coisa/pessoa?

Pois bem, imagina que conseguimos viver assim constantemente!
Como se fossemos eternamente gratos por sermos quem somos, estarmos onde estamos, conhecermos o que conhecemos, etc.;
Isso sim é magnifico! É esse o espírito do Universo, de verdade!
... É também, infelizmente, complicado de (re)criar numa base diária.

Aqui entre nós, passo a chamar a esta "distância/falta de", o SINDROMA DO BIDÉ. E passo a explicar porquê: actualmente não tenho bidé. A casa-de-banho da nossa casa não tem bidé, logo por rídiculo que pareça senti falta daquele objecto sem qualquer uso prático para o homem moderno. Já não me recordo detalhadamente porque senti falta de um bidé (a explicação para não me recordar pode ser entendida no post anterior, é tão bom ter desculpas!), mas por alguma razão absurda senti falta daquela peça de loiça branca que nos faz companhia incondicional no cagatório.
O bidé não foge com o cheiro, não foge por nos ver nús, vê os nossos amigos/familiares nús, é um pacholas! E eu perdi esse grande amigo! So long.. Farewell!

Agora a sério, onde queria tentar chegar é, a distância/falta de faz com que o sindroma do bídé se acentue em nós. Tal como quando duas pessoas estão afastadas por um longo período de tempo e se reunem existe algo de mágico e de "recordar" a química existente senão mesmo experienciando-a novamente.
Acredito que existe algo nesta distância que tem que ver com a individualidade da pessoa. Como se fosse uma forma de nos mantermos fieis a nós mesmos, do género de não nos esquecermos de quem somos, do que sabemos e do que alcançámos ou sentimos, como se o sindroma do bidé quisesse tentar falar mais alto e nos lembrasse do passado preparando-nos para o futuro.

Outra analogia: quando passamos por um momento díficil qualquer, aquelas merdas que nos deixam de garganta apertada durante uma semana ou que não parecemos encontrar solução imediata, dormimos mal, comemos mal, damo-nos mal com os outros, não ouvimos o que os outros dizem mesmo quando temos a resposta em frente ao nariz, e achamos aquela situação a pior merda de todo o mundo. Pensamos: "porra, isto só me acontece a mim, que caralhada".
Anos depois, falamos daquela situação traumática - ou talvez não tão traumática, senão tinhamos esquecido ou tentado esquecer - como sendo um mal necessário, pensamos para nós mesmos "possa, passei por aquilo e agora estou aqui. Isto foi importante, estou mais rico, cresci, aprendi".
E o que foi preciso para mudarmos de opinião? Para passarmos de "a-maior-merda-à-face-do-planeta" para uma experiência enriqueçedora?
The answer is: DISTÃNCIA....
(A resposta não é Tempo como vulgarmente se diz, porque o tempo é relativo e uma opção individual. Cada um demora o tempo que precisa, e não se trata de tempo mas do tempo até chegar à DISTÂNCIA do problema para o conseguir ver livre de ligações emocionais. Não acreditem nessas tretas de "o tempo cura tudo", é pura mentira para apaziguar corações moles.)

E porque precisamos deste distância afinal? Somos burrinhos? Não conseguimos descernir NA ALTURA CORRENTE que o mal porque estamos a passar é mesmo isso: PASSAGEIRO?
O que acontece é: decorem, não nos conseguimos distanciar dessa própria distância, é isso que acontece.

A distância reafirma-nos, diz-nos ao ouvido baixinho "Olha lá pá, tu és assim. Toma lá atenção ao que andas a fazer! Precisas mesmo de comprar isso? És mais feliz por comprares isso? É esse o caminho? Isso faz-te feliz? Essa pessoa é para ti? Faz-te bem? Quer-te bem? Essa viagem é mesmo importante? Aceitar esse trabalho é por necessidade ou gosto?"

A distância é parecida com a solidão, mas de uma forma previligiada pois não estamos "em falta". O que acontece é que conseguimos ver se é uma FALTA ou se está bem como está.
A distância de algo/alguém ajuda a centrarmo-nos no universo. A reposicionarmo-nos perante as coisas.
Há quem precise de um valente chapadão na cara para acordar, outros precisam de assistir a uma morte de um familiar, há quem precise de um casamento destroçado ou de ver uma doença de um amigo, e há quem consiga ver as coisas apenas com um pouquinho de distância.
A distância é de facto um acto isolado, de solidão. É um processo individual. Mas porra, é positovo!

O não-relacionamento directo com algo/alguém faz com que não se criem laços emocionais e de dependência, logo, there's nothing to loose.
A distância faz com que se consiga manter uma opinião inalterado sem sofrer influência de outrém, e isso é bom ou mau?
Depende. É bom em casos como o negócio/emprego/trabalho em que temos de conservar uma posição firme e "desencanada". Nessas alturas é bom sermos convictos do que queremos. Noutras situações não há necessidade dessa rigídez da distância.

Vamos supor o seguinte: entramos na feira popular, passamos por todos os carróceis e divertimentos, passamos por restaurantes deliciosos, vemos um monte de pessoas desconhecidas e decidimos ficar simplesmente parados no meio daquela confusão caótica. O que acontece? Já fizeste isto? Já paraste alguma vez no meio da feira popular, ou de um aeroporto ou de uma outra feira ou festa infernal?
Eu digo-te o que acontece quando se está realmente parado: sentimo-nos deslocados, vemos o rídiculo de coisas que fazemos para nos satisfazermos. Vemos os caprichos e falta de sentido que existe no mundo. E não há nada de mal nisso se tivermos essa OPÇÂO, se soubermos que existe a OPÇÃO de ficar no meio da confusão e simplesmente observar ou fazer parte dessa confusão. E para ter essa NOÇÂO de livre arbitrio é preciso.. . . DISTÂNCIA!

A distância ajuda-nos a avaliar os outros e nós mesmos, é um conhecimento crescente, por vezes uma praga por nos privar de seguir os instintos, mas de tempos a tempos é uma ajuda preciosa.

O importante é conhecer a nossa própria distância e como se pode utilizar essa virtude.
Ou seja, o importante é ver a distância como um processo de evolução individual que nos possibilita apreciar o que temos e onde estamos.

 

Memória

Tenho de confessar isto publicamente:
- A minha memória não funciona enquanto máquina registadora de acontecimentos lineares.
Não sei se é apenas comigo, julgo não ser, mas tenho graves problemas em fixar acontecimentos de uma forma concreta e de acordo com a forma como se desenrolaram na realidade.

Sei que NO MOMENTO estou lá. Ouço, excerço um papel activo, compreendo, mas NÃO DECORO. Não fixo aquela conversa/situação ao ponto de a conseguir descrever ao detalhe posteriormente a alguém.
Não consigo, é uma falha minha, voltar atrás no tempo e contar uma conversa tal e qual como ela se passou. Consigo apenas dizer tópicos que foram falados, e vagamento aquilo que eu apreendi como sendo importante: talvez uma característica de personalidade, um bloqueio ou alguma similiaridade comigo mesmo. Mas se me perguntarem directamente "e o que é que foi que sicrano disse?" eu respondo: "não sei, falou de bla-bla-bla-bla-bla e do bla-bla-bla-bla", e não consigo dizer o que fulano ou sicrano REALMENTE falou. Acabo por falar nas INTENÇÕES/MOTIVAÇÕES por detrás do que foi dito e não O QUE FOI DITO/FALADO. Ou seja, sou uma máquina aniquiladora de conversas.
Como se fosse uma trituradora de palavras e linguagem que vai desbravando caminho e destruindo o que não interessa, que se encontra ao nível superficial e que pouco quer dizer para mim. Guardo apenas a ESSÊNCIA da conversa a um nível inconsciente, porque o resto é mastigar e deitar fora.

Esta falha de memória demonstra-se um pouco grave quando tento explicar como correu determinado acontecimento no meu quotidiano - vejo-me bloqueado por não conseguir lembrar EXACTAMENTE o que foi falado/dito, sei apenas que se falou de x ou y ou z e que o resultado foi, digamos, = XYZ, agora a fórmula matematicamente completa para chegar a este resultado é mentira, não faço "puto ideia".
Chateia-me um pouco pois até sou bom a decorar determinadas merdas, mas por alguma razão absurda tenho vindo a ignorar muito as conversas que têem comigo, como se soubesse de antemão que aquilo é pura bullshit sem significado significativo algum.

Anyway, vou-me esforçar para ouvir o que as pessoas têm para me dizer sem ser de um ponto de vista psicologicamente crítico e estrutural.