3/18/2006 

Yet another day...

Tenho acordado com uma sensação de perda.
Por vezes sento-me para escrever neste blog e forço-me a entrar num estado específico. Como se parte deste esforço me trouxesse de volta algo maior, uma retribuição por algo feito ou atingido.
Certos dias ao acordar sinto o peso do impossível, como se tivesse de virar a mesa ao contrário logo mal saio do cama. Não sou uma pessoa fácil de satisfazer, mas também não peço que o façam por mim, só não gosto que me privem do alcance dessa mesma satisfação.
Sinto que tenho feito algo relevante por mim mesmo a nível de trabalho, mas quanto mais faço maior é a vontade de isolamento e de incompreensão com o exterior. Ainda existem gaps enormes nesta fronteira que criei entre o eu-verdadeiro/interior e o eu-figura/exterior. Sinto que se não tiver laços com nada nem ninguém não será possível magoar o que me rodeia com atitudes e opiniões, logo posso ser eu mesmo ininterruptamente.... Sem me preocupar. Mas sei também que este é o escape mais fácil e menos honesto comigo e com quem me rodeia: a ruptura.

Houve tempos em que me senti bastante bem com a passividade e descanso. Com a sensação de estar em casa, ou a conviver. Hoje em dia vivo as coisas num ritmo que não me permite desfrutar destes momentos. Quando tento aproveitar, simplesmente adormeço de tédio ou cansaço. Desligo.
Sei que estou mais condescendente, tolerante, friendly, easy-going, light, etc, etc. No geral, acho até estupidificante. Mas sei perfeitamente que é uma fase. Estou menos duro comigo mesmo, e tenho tentado inverter naturalmente estas tendências que na realidade me permitem ser mais consciente e racional mas que por outro lado me prejudicam na forma como lido com o trabalho pois a leveza não é compatível ou anda de mãos dadas com a presistência e responsabilidade.

Sinto-me radicalmente mudado e os novos valores que tenho sei que não são apenas meus mas pertencentes a uma vontade de mudança global. Neste sentido acho-me incumbido de exercer funções de alerta e de passagem de conhecimento.
Quando vejo tristeza nas pessoas penso quase sempre que estas não são suficientemente gratas daquilo que têm e são.

Apresento-vos uma esperança verdadeira e válida: o reconhecimento do que os outros significam para ti e contribuem para a tua existência. Agradece a quem te rodeia, agradece por estares onde estás, por teres família e calor humano. Pelo que foi feito por ti. Agradece teres a possibilidade de aprender e ganhar experiências através do que te rodeia.

O pensamento da mediocridade é o passo mais rápido para o sentimento de paz.
O pensamento universal é o passo maior para as armadilhas do racional e do sentido de dever.

3/16/2006 

edição frenética e publicitária merece ser interrompida por momentos de puro deleite alucinatório

CINEMA s.m.
1 arte de fazer filmes para projecção;
2 espectáculo de projecção de filmes;
3 estabelecimento ou sala destinada à projecção de filmes;
4 carreira profissional na arte cinematográfica
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ARTE s.f.
1 aplicação do saber à obtenção de resultados práticos, sobretudo quando aliado ao engenho;
2 ofício que exige a passagem por um aprendizado;
3 técnica especial; conjunto das técnicas para produzir algo;
4 expressão de um ideal estético através de uma actividade criativa;
5 conjunto das actividades humanas que visam essa expressão
6 criação de obras de arte;
7 conjunto das obras de arte de um determ
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SURREALISMO s.m.
escola ou movimento artístico-literário, surgido no segundo quartel do século XX, que preconizava modos de pensar livres de toda a preocupação racional, moral ou estética, radicando a criação nos automatismos psíquicos, no subconsciente e no sonho
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Uma visão pessoal, única e imprevisível vale uma vida.
Transmitir mensagens universais e estimulantes geram vontade e inspiração ao nosso redor.
A projecção de imagens não-racionais, simbólicas e abstractas DEVEM vir à superfície e funcionar como uma ruptura violenta e absurda no REAL. O mundo interior, altamente estilizado (ou desprovido de ligações) deve ganhar forma na não-forma, e a materialização só ganha uma forma absoluta na não-imagem.

"Behind the Lens" está a ganhar forma... E conteúdo.
Novas inties com:
- Lauro António (teórico/professor/relizador/comentador)
- Filipe Melo (músico/realizador de "I'll See You in My Dreams")
- Tiago Guedes (realizador de "Coisa Ruim")

Guião: in progress
Rodagem: lenta, mas em produção
Visuals: in mind

3/09/2006 

Ligações

Apercebes-te do PRECISO momento em que começas a viver uma vida que não é tua?

Existem alturas em que te LIGAS com coisas que fazem accionar comportamentos e uma rotina à qual NÃO pertences mas te inseres. Tens consciência dos limites e fronteira daquilo que realmente te importa e com o qual te acabas por ligar somente por força do destino? Consegues estabelecer essas fronteiras e compreender o que te devolve REALMENTE algo (presente e para o futuro) e o que é simplesmente temporário e faz parte de um percurso maior?

Onde influencias e onde és influenciado? Em que terreno actuas? Qual o teu palco?
Entendes como funciona essa história do "tempo das coisas"?

Eu vou neste preciso momento pegar na agenda e ver o que me reserva esta 5ª-feira, a partir daqui vou desligar-me de um pensamento 100% meu e verdadeiro e ligar-me a um universo de possibilidades onde imperam forças de outras pessoas e vontades externas à minha e a partir daqui estou sujeito a ser mais um número no grande planeta terra ou fazer a diferença tendo que para isso FAZER algo por mim (que é inevitavelmente algo que vai influenciar o colectivo). E depois entra-se na maior treta de todas, aquela que actualmente vivo mas na qual não acredito totalmente: a de que o homem não é importante, o que importa é o que o homem FAZ.
E daqui volta-se aos conflictos do Ego, o que me faz questionar se não seria bem mais interessante se fizessemos tudo de uma forma despegada e não-própria.

 

Zero Perfeito

Hoje o sentimento é de.... Vazio.

Estive parado cerca de 40 minutos no trânsito; estava perfeitamente consciente do momento e num estado absoluto de vazio. Nestas alturas tudo o resto é digno de reflexão e atenção. Imaginei como seria ser um ramo de uma àrvore ou um mero plástico que dá forma às luzes de um carro ao piscar.
Sabes o que é sentires um corpo e ignorar a sua presença? Estive em meditação. E é maravilhoso sentir-me um cano por onde os pensamentos fluem independentemente de limpos ou sujos. Tudo o resto deixa de ser importante, a música é doce e o sol vê-se tão forte que é quase impossível suster a emoção. Sente-se que ser humano é algo que acarreta um propósito e com isso vem um fardo enorme de ter de fazer algo por nós, e pelos outros, e assim gerar conflictos intermináveis por sermos e pensarmos todos de formas diferentes obstante do facto de termos a mesma constituição.

Ontem tive um desentendimento com a Re e senti na pele as mudanças que sofri enquanto pessoa durante o último ano e meio. Estou despersonalizado e sem carácter. E digo-o abertamente: seria muito bom se todos se deixassem as merdas pessoais do ego para trás e passassem a ser apenas pessoas simples e humildes. Confesso que sou problemático e pensativo. Admito que a minha articulação mental é uma ratoeira onde continuo a caír e muitas das vezes o absurdo é saber que tenho a mola por cima de mim e continuo a morder o queijo sabendo que estou errado.
O que acontece hoje em dia, quando me exalto ou enervo com algo/alguém é que simplesmente já não consigo COMPREENDER porque se grita ou alimenta aquela merda de momento. Porque se continua a argumentar algo pelo simples facto de MANTER uma posição. Já não consigo fazer esse jogo do: isto é uma discussão, eu fico aqui com a minha opinião e tu ficas aí com a tua, eu tenho razão, tu tens razão, bla bla bla. Por vezes começo a entrar nesse padrão de comportamento e desligo-me imediatamente, sinto-me cair em mim e saio fora, mas depois não vejo esse acompanhamento na outra pessoa. Enquanto essa pequena discórdia momentária existe, vejo-me de fora como um badameco sem carácter e força. Sinto que o MOTIVO daquela briga deixa de ter razão quando chega aquele ponto, ou seja, substituo a discussão por uma vontade de permanecer acordado e ciente do que se passa.

E estar constantemente vazio o que significa? Deixar de ter sentimentos é deixar de ser humano. E quando se deixa de sentir como se lida com as outras pessoas? Porque se continua a querer estar com outras pessoas quando não há nada para sentir senão somente existir no momento presente...?
Não digo isto num sentido carregado de depressão e tristeza, é um vazio sem conteúdo e sem qualquer tipo de attachments. Um vazio novo e sem carácter. E se não tem carácter, nem personalidade, não é possível destruir este vazio. É essa a beleza de não ter nada e se conseguir fazer tudo.
Quando não à ligações e não se sente vontade para as ter (num sentido de dependência que todos temos) tudo é possível.

3/06/2006 

Exercício #1 - Teatro Comandado

Peço a atenção do leitor para o seguinte exercício que funciona na perfeição e merece ser experimentado:

1) Quando um sentimento aflorar em ti que incomode (algo intenso, como vingança ou ódio), não o expresses e deixa que alguém que te é muito próximo sinta esse mesmo sentimento e o viva por ti. Tenta ignorar esse sentimento como se te fosse indiferente e vais assistir a alguém representar essa vingança e sentimento de ódio por ti.

2) Quando alguém que te é próximo (quanto mais próximo afectivamente melhor) sentir algo como raiva, dor ou angústia experimenta viver tu profundamente esse sentimento ao pé dessa pessoa - de forma quase teatral, mas sempre convincente - e vê o que acontece: os papéis invertém-se, a pessoa entende-se e fica em paz com esse mesmo sentimento, simplesmente porque o vê de fora. É uma cura que lhe ofereces. Basta encenar essa sentimento alheio de forma explosiva e viva para que esse bad-mood passe quase de imediato de um para o outro. There and back again.

3) Os sentimentos podem ser roubados ou representados por quem se quiser. Basta que seja de uma forma verdadeira para ambos.

4) Existem lideres e pessoas em comando, assim como existem pessoas que se divertem em manipular as outras (beware the scorpio), este exemplo não tem como finalidade f*%/er ninguém.

 

Behind The Lens no Fantasporto

Sexta-feira arrancamos para o Porto e chegamos a tempo para ver o "Hamster's Cage" apadrinhado pelo Cronenberg, que não passava de um wannabe de "Happiness" sem metade da crítica. Filme catita, sobre uma famíliazita canadiana altamente perturbada e em que cada personagem tinha o seu veio de loucura (incesto, pedofilia, etc). Interessante, mas nada de mais. Não havia uma única similiariedade com o universo Cronenbergiano, deve ter sido apenas a nacionalidade.
Seguiu-se "Hostel", desta feita apadrinhado por Tarantino. Este sim foi o filme do fim-de-semana. E quem sabe um dos melhores do Fantas 2006! Começa muito teen-movie, com gajos porreiraços, miíudas giras, fodas, saídas à noite e todo aquele espírito que fans de filmes de terror abominam por serem uns bichinhos da noite e dos quartos escuros. Anyway, o filme vai crescendo progressivamente e vai-se adensando o ambiente e as estranhezas que vão assolando as personagens. A 2ª metade do filme é altamente violenta, gráfica e original. Penso que é nesta última parte, na da originalidade da violência, que o filme ganha. As torturas às personagens são dificeis de assistir sem retrair algum músculo, mas ainda assim não se tira os olhos do écran. Tem uma edição interessante, e bastantes momentos felizes.

Sabado de manhã saimos para filmagens para o Doc. "Behind the Lens" e entrevistamos 1 responsável do Fantas, 1 projeccionista video e um de película (um velho e um nova, curiosamente), 1 realizador (Julian Richards, do The Last Horror Movie - http://www.imdb.com/title/tt0319728/) e depois vimos um filmito altamente onírico de nome "Supernova". Não sei se era o sono e a barriga cheia de francesinhas que não ajudou ou o filme que cheirava a pretenciosismo desmedido, mas não me convenceu. Tinha momentos interessantes, e o conceito de um homem que ao passar por uma situação de coma lhe abre portas para experiências de vida inaceitáveis para a família que o rodeava... Havia aquela aura e filmagem etérea (quasi-voadora) de Lynch, mas faltava o espicaçar de algo, faltava uma mais valia dramática algures.
Ainda apanhamos uns planos do grande e pequeno auditório do Rivoli, e assistimos à Confer|encia de Imprensa onde se ouviram as queixas da direcção do Fantas em relação ao desprezo dos media nacionais e entidades públicas pelo festival.
26 anos depois foi um pouco triste constatar o pânorama pouco profissional de um festival tão conceituado. Muita gente simpática e a trabalhar por amor à 7a arte, mas porra, muito poucos apoios e vivia-se na pele o espírito do "não se passa da cepa torta".
Sábado à noite fiicamos no relax no hotel, just haggin' out, e fomos beber um chá ao Majestic (supreendidos por uma menina-de-mesa absurdamente into teas, a interacção foi surreal), voltamos para o Rivoli tarde, deitamo-nos nos puffs do 3º andar, observamos a fauna e à 1h e tal fomos ver "Frostbitten" um filme suéco de vampiros muito mal engendrado e que nos levou a saír da sala meia hora depois por sono e falta de paciência.

Domingo de manhã fomos a Serralves e adorei a exposição de Ernesto de Melo e Castro! Temos pessoas geniais e que vivem no obscurantismo do "o que é internacional é que é bom". Fosgasse, o homem é MUITO inteligente, e conjuga obras multimedia com outras simplesmente teóricas e gráficas, com base num estudo aprofundado da matemática da linguagem e da comunicação visual/escrita.A componente visual das instalações tem um ar psico-alucinogénico com um feeling dos anos 60 flower-power, mas sem a burrice da erva. Poético, inspirador... E Serralves é um espaço muito simpático e com aspectos arquitectónicos mais bem pensados que um CCB.
Ainda de manhã voltamos ao Rivoli e fizemos umas entrevistas ao público do Fantas, pessoas interessantes, outras menos. Vimos o "The Other Half", que era um filme engraçadito de comédia sobre um casal recém casado que vem a Portugal passar a lua-de-mel e que o marido insiste em ver os jogos do Euro... Muito pobre. O que é que isto faz no Fantas? E ainda por cima premiado. Não se entende.
Saímos, fizemos mais umas entrevistas a público, apanhamos o senhor Valdemar Silveira que é projeccionista no Fantas desde que este existe e.... E voltamos para Lisboa.

De uma maneira geral o documentário está a ganhar contornos interessantes. Temo cerca de 4 horas e tal de material bruto deste fim-de-semana e agora segue-se um estudo aprofundado de visionamento no sentido de perceber o que interessa seguir e aprofundar e o que é para deixar de lado. O facto de estarmos a filmar com 2 câmaras "live" é muito bom pois vai dar um dinamismo porreiro e de certeza que vai resultar num documentário com uma edição dinâmica e onde se pretende que o espectador se sinta constantemente a acompanhar o ritmo das filmagens. Em "Behind the Lens" quero picar o estado, o ICAM, e o cinema velho made in portugal. Quero ouvir o "novo sangue". Uma entrevista com o Filipe Melo do "I'll See you in my Dreams" seria interessante.

Bom...O fim-de-semana foi formidável, a postura de "trabalho" as in obrigação foi transformada em interesse e redescoberta. As possibilidades mantêm-se em aberto e apesar de saber alguns dos pontos que NÃO me interessam abordar, muitos dos que interessam ainda estão por surgir. A Re tem razão ao dizer que ainda não surgiu um ponto fulcral de DIFERENÇA ou que diga algo de NOVO sobre a temática abordada, mas como contra-argumentação insisto que nem tudo o que é aparente para uns e que vive no campo do falado seja válido sem ganhar forma VISUAL e CONCRETA, e é isso que quero fazer: uma reflexão VIVA sobre as dificuldades existentes no backstage do cinema alternativo.

3/02/2006 

Struggle.Unite.Obey















Sometimes one achieves perfection easily and without fighting.
In the end what matters is not showing who you are, but rather uniting with what you meet (and grasping seriously who you are) on your way to completion.
NM

 

Master of Puppets

Hoje encontro-me perfeitamente insatisfeito.

Faz algum tempo que não saboreava esta sensação de não-controle de mim mesmo.
Como se houvessem momentos em que uma pessoa deixa de viver e passa a ser vivido, como se ficasse sentado a ver os carros passarem; e o que incomoda profundamente nesta sensação é a não aceitação por parecer retardada ou não-produtiva, porque se aceitasse o estado de espírito, provavelmente passava de imediato para outro mais gratificante.
Se estivesse, por exemplo, de férias e não na merda da rotina de casa-emprego-inércia-sono-emprego-casa, etc., estaria na boa, mas como não estou passo a interiorizar este sentimento que apesar de entendido produz efeito.

Não existe nenhuma prova científica do masoquismo fazer parte integrante do ser humano?

Não sei porque chega UM momento em que TODA e QUALQUER coisa atinge o seu estado limite. Como se esgotasse a fonte. É isso que sinto em relação ao que me rodeia, que expirou o prazo de validade, e de certa forma sinto-me receoso por anticipar estes fins e por saber de antemão que cada vez o prazo é menor e se consome TUDO de forma mais voraz.

The way I see it, a forma de anular este desconforto é FAZER algo. Se hoje chegar a casa e meter em marcha algo que me preencha, sei que afasto este sentimento, mas é preciso VONTADE ACTIVA.... E no final do dia sobra pouca força para gerar, criar ou estimular essa vontade.