8/20/2007 

Abismo

O que me move a escrever é sempre o mesmo: angústia.
Quando estou entalado, com palavras na cabeça, construções sem forma ou em queda auto-centrada, os caminhos vão todos dar ao mesmo local: escrita.

E aqui estou. Estupidamente mal. Sem motivo aparente. Sem razão. Sem justificação física, apontável ou concreta para um mal senão interno e auto-iludido.

Estou convencido de que não existe nada.

Aliás, tudo para além do nada é apenas isso: uma construção.
A ilusão é circulatória e recreativa. Depende da capacidade de imaginação e de quanto tempo se aguenta a jogar o mesmo jogo.
Chega um momento em que se entende: isto é tudo inventado. Foi o Eu-matéria que criou o Eu-mental, e ambos são interdependentes. Se escrevo: estou a criar. Estou a iludir-me novamente.

O livre-arbítrio de viver é uma valente treta que se diz para dar alento a pessoas que procuram respostas imediatas. As outras, ou passam para o outro lado, ou vão-se corroendo por dentro procurando pela Razão.

Agora sou apenas uma chama ignorada. Mas se me convencer o suficiente, sou capaz de queimar uma casa inteira e penetrar nas ilusões de matéria e também mentais de quem estiver próximo.

A angústia traz-me próximo do Abismo.
E a profundidade é bem mais assustadora quando a desejamos.