9/28/2006 

Respeito

Uma das coisas que mais me enerva o juízo é a falta de respeito!
Como é possível haver pessoas que não enxergam até onde vão e a medida dos seus actos? É como se não tivessem o discernimento de entender que não estão sozinhos no universo e que o espaço delas termina onde começa o dos outros.
Uma característica particularmente enervante nas pessoas que passam os limites do respeito é o descabimento com que o fazem e até onde conseguem ir. Assisto regularmente a pessoas amigas que são literalmente "molestadas" pela falta de respeito para com elas. E o pior desses malfeitores é que se conseguem tirar nabos da pucará, isto é, se conseguem saber algo ou passar uma fronteira que não lhes diz respeito, continuam a desbravar caminho como se tivessem achado a rota das índias! São pessoas abusadoras!

Noutra prespectiva, respeito não é uma coisa que se tem ou não tem. Não se trata de algo mesurável.
Respeito impõe-se e preserva-se. Respeita começa por si mesmo. Como se se tratasse de um tesouro ou de uma simples defesa pessoal para com o universo particular e único de uma pessoa singular. E agora pergunto eu: o que é que há de mais bonito e interessante que diferencia as pessoas umas das outras? As suas diferenças e particularidades. O seu íntimo. E no meu ver esse universo deve ser conservado e protegido. Também deve ser partilhado, mas nunca roubado, tirado ou invadido sem premissão. Logo, se estas qualidades não são respeitadas ou protegidas, não tarda perde-se o limite para com o território alheio e a transgressão da vida pessoal passa a ser normal.
É o mesmo que esquecer que temos passado, presente e futuro e que já fomos crianças e vamos ser idosos, e que todas estas fases estão interligadas e são interdependentes. Um idoso merece menos respeito que uma criança ou vice-versa? A "criança" dentro de nós não deve ser esquecida assim como o respeito pelas minhas opções pessoais e pelos meus códigos de conduta devem também ser assegurados hoje, amanhã e para sempre.

Eu particularmente, não estou interessado em me transformar num mupi ou numa publicidade ambulante. Não defendo que me passem à frente na fila, nem que cuspam nos meus pés, nem que me incomodem a telefonar a meio da noite, ou que andem a cheirar os meus peidos para saber o que comi.
Quem invade as fronteiras da outra pessoa não se aprecebe. E o pior da situação é que ao fazê-lo sente-se no seu devido direito por desconhecer as regras do jogo. Por ele/ela proprio/a ser uma peça desse mesmo jogo. Pois bem, eu não estou interessado em jogar o "invade-a-minha-paz-de-espirito". Não estou sequer interessado em ter grande convívio com pessoas que têm esse tipo de postura ou consciência. E isto não se trata de incompreensão ou preconceito, simplesmente não sou pai delas nem tenho de aturar a falta de bom senso de tais criaturas. No máximo, diz-me respeito educá-las, "straight" their way ou chamar-lhes a atenção.

Normalmente, as pessoas tendem a inclinar a balança a seu favor. Nós, portugueses, chamamos-lhe puxar a brasa à sardinha. Quero com isto dizer que qualquer pessoa que não saiba impor respeito sobre si mesma tem como hábito defender essa sua falta de respeito para consigo agindo como uma desrespeitadora para com os outros.
Vamos tomar o exemplo da Dona Maria que se faz de convidada para ir jantar a casa de amigos, expressa opiniões e intervém na vida dos familiares e invade a privacidade dos outros constantemente. Como pode a Dona Maria considerar-se uma pessoa respeitosa? Aliás, como pode uma pessoa destas impor respeito sobre ela mesma quando desconhece por completo até onde deve ir nos seus actos?
Se um amigo da Dona Maria se fizer de convidado para ir lá jantar a casa, quem é ela para dizer que o fulano é abusador? Quem é ela para dizer que o sicrano que lhe liga às 7h da matina é maluco quando ela faz o mesmo com a irmã? Quem é ela para dizer que o vizinho é cusco quando ela mesma entra no quarto dos filhos sem bater à porta?

Será dificil entender, dois mil anos depois, que não se vive isolado e que aquilo que fazemos aos outros estamos a fazer a nós mesmos?

Será assim tão dificil de ver que um pouco mais de educação, respeito e bom senso é fulcral actualmente e uma necessidade que deveria ser transformada em NORMALIDADE? Para mim uma pessoa anormal, hoje em dia, é aquela que não compreende este tipo de coisas. Devia-se seriamente pensar eu substituir as aulas de educação moral e religiosa por aulas de comportamento em sociedade.
Exigir respeito não é um bem, é um dever. Parece uma afirmação política ou um cliché de argumentação mas a verdade é que se tem de virar a corrente a favor de quem pensa assim, senão a seguir aos golfinhos, à água e às arvorezinhas destruídas começamos simplesmente a invadir o frigorifico do desconhecido para roubar gelo ou buscar leite como se fosse a coisa mais normal do universo. E olhem que esta situação já me aconteceu!

Respeito é uma virtude.
Respeito é para se ter com coisas, objectos, pessoas e animais. Deve-se respeitar mutuamente e conservar essa educação como uma mais valia para a dignidade e entendimento para com a liberdade.
Só havendo uma protecção e correcta aplicação das nossas condutas pessoais se torna possível construir algo válido e duradouro.