12/30/2005 

Reflexões

- Quem é algo, não precisa de o afirmar. Quem afirma, não o é realmente; mas gostava de ser.

- O que realmente importa, já se encontra connosco. Está bem no nosso interior ou ao nosso lado, à espera de ser encontrado/a e apreciado/a.

- Ver todos os pontos de vista menos o próprio é uma de duas coisas: iluminação ou estupidez.

12/28/2005 

Espectacular!

Perguntaram-me no trabalho: "já fizeste o print do cartaz?"
A minha resposta foi: "Ainda não...
E acho espectacular. Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular...."

..... Entrei em loop frenético.....

As pessoas olharam para mim e não sabiam se estava a brincar pois o rosto alterava e as expressões eram simultaneamente de infantilidade e esquizofrenia aguda.
Ri-me na cara de todos e repeti: "Acho Espectacular...."
Começaram a juntar-se mais pessoas à minha volta... E na minha cabeça apenas me ria de mim mesmo, e dos outros, e da cara de parvos de quem me rodeava, e da minha figura de parvo.. E da parvoíce toda à minha volta e deste local parvo.. E de tudo o que é parvo e não se consegue rir da sua própria parvoíce...

Continuava sentado na cadeira, de sorriso estampado, e expressões exageradas batendo na mesa a chorar de rir e a entoar:
"Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular...Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular...Acho Espectacular...Acho Espectacular...Acho Espectacular...Acho Espectacular...Acho Espectacular...Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular...."

Alguns dos loucos que me acompanhavam riram-se também e retribuiram o meu riso com outro riso, ainda que um pouco controlado e desvanecendo-se aos poucos.
Os colegas de trabalho viram-se formados a chamar os superiores, e estes ao tentarem comunicação a única resposta que obtinham era a mesma: "Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular..Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular....Acho Espectacular...."

Ao fim de 10 minutos tinha cerca de 30 e tal pessoas à minha volta a ouvirem a lenga-lenga do "Acho Espectacular..."
Chamaram a segurança e funcionários do posto-médico para me consultarem.Retiraram-me do escritório e levaram para uma sala pequena.No caminho todos olhavam com um misto de entusiasmo pela estranheza e ao mesmo tempo de reconhecimento da mesma.
Só me dava vontade de rir daquela merda toda e estava a achar tudo espectacular!

Deram-me um sedativo. Adormeci. Estava todo babado e achei espectacular.
Quando acordei pedi uma indemenização por enlouquecer no local de trabalho. Consegui provar que até então não tinha quaisquer distúrbios psicológicos.

Estou tecnicamente louco e continuo a descontar para a Segurança Social. Tenho uma carteirinha de esquizó que me dá acesso a transportes publicos e previlégios no cinema. Posso mandar tudo pró caralho e sair ileso.
Estou extremamente feliz de agora não trabalhar, receber o dobro e puder se louco livremente.

Alguém quer compactuar comigo?
Acho tudo isto espectacular!

12/26/2005 

Manifesto Dada 1918

To launch a manifesto you have to want: A. B. & C., and fulminate against 1, 2, & 3,...

...and maintain that novelty resembles life in the same way as the latest apparition of a harlot proves the essence of God. His existence had already been proved by the accordion, the landscape and soft words.

Everyone does it [imposes one's A.B. & C.] in the form of a crystalbluff-madonna, or a monetary system, or pharmaceutical preparations, a naked leg being the invitation to an ardent and sterile Spring.

...the love of novelty is a pleasant sort of cross....impulsive and vibrant to crucify boredom.

I'm writing this manifesto to show that you can perform contrary actions at the same time, in one single, fresh breath; I am against action; as for continual contradiction, and affirmation too, I am neither for nor against them, and I won't explain myself because I hate common sense.

DADA DOES NOT MEAN ANYTHING

...on the other hand, there are: the new men. Uncouth, galloping, riding astride on hiccups.

Psychoanalyses is a dangerous disease, it deadens man's anti-real inclinations and systematizes the bourgeoisie. There is no ultimateTruth.

I hate slimy objectivity, and harmony, the science that considers that everything is always in order. Carry on children, humanity ... Science says that we are nature's servants: everything is in order, make both love and war. Carry on, children, humanity, nice kind bourgeois and virgin journalists...

I am against systems; the most acceptable system is that of having none on no principle.

Art is a private thing, the artist makes it for himself; a comprehensible work is the product of a journalist...

What we need are strong, straightforward, precise works which will be forever misunderstood. Logic is a complication. Logic is always false.

12/23/2005 

Corspe Bride - Burton Regressou, mas Esqueceu a Abóbora

Ahh! Júbilo de satisfação!
Tim Burton voltou aos ambientes góticos, personagens excêntricas, trocadilhos de humour-negro e à estética visual de art nouveau bizarra que tanto o caracteriza!
Corpsebride é um mimo. Pouco mais de 80 minutos de animação que cumpre com todos os objectivos a que se propõe!
Okay que faz lembrar imenso o Nightmare Before Christmas, mas quem se importa com isso quando se trata de coisa tão absurdamente genial e divertida?

Victor, o personagem a quem Johnny Depp dá voz está imensamente parecido com ele mesmo. Christopher Lee então está de babar... O boneco encaixa-lhe que nem uma luva. E os temas ao bom género de músical revestido de uma neblina cinzenta e negra de Danny Elfman são um luxo que dá gosto de ver!
Muitas referências ao universo de Burton... Mas, curiosamente, nenhuma abóbora laranja. Ou será que me passou ao lado?

A surpresa de final de ano que no meu ver supera "Charlie and the Chocolate Factory" e se junta a um dos melhores filmes do ano a par de "Sin City" (Roberto Rodriguez), "Mar Adentro" (Amenábar), "Saw", "Howl's Moving Castle", "Million Dollar Baby"... E ainda não vi o "Oldboy".

 

Morte à Mariah Carey (a pensar no Natal II)

Estou disposto a cumprir 20 anos de prisão se pudesse esganar esta cavalona com as minhas próprias mãos!
Não há nada de mais abominável que ouvir os esguinchos horrorosos desta lady a cantar christmas-carrols animadissima da vida que nem uma bibá-pita de Cascais! Voz gospel o tanas! Vai um gajo a subir as escadas rolantes de um vulgar centro comercial e pumba, é assaltado pela horripilante e perturbadora letra que passo a citar:

"You better watch out,
You better not cry,
Better not pout,
I'm telling you why:
Santa Claus is coming to town.
He's making a list,
And checking it twice;
Gonna find out
Who's naughty and nice.
Santa Claus is coming to town.
He sees you when you're sleeping.
He knows when you're awake.
He knows if you've been bad or good,
So be good for goodness sake!
Oh, you better watch out!
You better not cry.
Better not pout,
I'm telling you why:
Santa Claus is coming to town.
Santa Claus is coming to town!"

Medo? Não!!
Quem foi o perturbado senhor que decidiu escrever esta letra assustadora?
"He sees you when you're sleeping. He knows when you're awake." - É no minimo doente pensar que estamos a ser observados, imaginem o que é pretendido passar à cabeça de tenras criançinhas inocentes. Só pode ser mesmo ironia... Esperemos!

Voltando à badalhoca da Mariah Carey, quero vê-la degulada em praça pública! Não marece um centavo do dinheiro que tem, e não entendo como é possível darem airplay repetidamente à mesma chafurdice cacofónica com mensagens de culpa e perseguição.
Ainda se fosse um Barry White... Ou um George Benson. Sei lá, uma Fionna Apple. Ainda se comia e calava. Até mesmo a pseudo-contemporânea da Diana Krall entrou na onda das musiquinhas de Natal, que desgraça! Chega o Natal e aparecem os Best-Offs, os Greatest Hits, os albuns de última hora... Capitalismo puro e duro.

Depois da grande máxima que inventei de "espirito académico mete nojo!". Peço a todos que se deixem possuir pelo espirito do Natal e propaguem a mensagem de Morte à Mariah Carey! Que vá abanar a anca para outras bandas que aqui não é desejada!

12/16/2005 

Teoria de Merda (a pensar no Natal..)

Limpas o cú pela frente ou por trás?
Existe com toda a certeza uma razão para algumas pessoas limparem pela frente e outras por trás. Algo mais do que simples educação ou, digamos, hábito.
Acredito que deve ter a ver com o carácter da pessoa, e acho também que isto passa por fases transitórias.
Senão vejamos, porque iria uma pessoa ignorar a sua criação mal-cheirosa limpando por trás e deitando o papel fora sem olhar? Seria um absurdo porque tem sempre de se confirmar se ainda está sujo ou não. Ou melhor, porque razão iria uma pessoa limpar o cú por trás e dar-se ao luxo de ver o que cagou ficando assim a par da cor, cheiro, textura e consistência?
Para além dos meandros da higiéne é preciso ser muito ordinário para não admitir que há algo mais a entender no seio deste maravilho universo do cócó.
A filosofia da WC é extensa. Cagar é um momento de sossego. De intimidade profunda que por si só merece tanto respeito como um monge budista. Um gajo senta-se para passar ali uns minutos de profunda concentração e nem sequer se digna a pôr em causa os hábitos de limpeza do cú. Esse objecto de desejo de tanto homem e mulher. Sade must be rolling on his grave with joy with these words.
Na minha Teoria de Merda, pretendo chegar a algumas conclusões e formular respostas mais do que fazer uma dissertação extensa sobre as origens etimológicas do cagalhão. Portanto, vamos por pontos:

1. Existem mais pessoas a limpar por trás do que pela frente. Isto é ponto acente.
2. Limpar pela frente é menos educado do que limpar por trás pois é feito contacto com os orgãos genitais e estimula duas àreas erógenas ao invés de só uma. (sick)
3. As técnicas de dobragem de papel-higiénico (outra aplicação origami) e quantidades utilizadas devem também depender de caso para caso.
4. Se uma pessoa está sentada, "tecnicamente" é menos funcional levantar o cú do acento e limpar por trás. Todos de acordo?
5. Limpar pela frente põe em risco sujar os tomates ou o pi-pi. Para além de se puder também mijar o braço pelo caminho...Which is a terrible accident.
6. Qual a sensação que deriva de olhar para a merda? Será consensual e unanime que a nossa própria merda não nos enoja? Então porquê ser arrogante ao ponto de considerar a dos outros tão ofensiva e nojenta quando se trata da mesma matéria derivada do mesmo tipo de alimentação? Dá que pensar.
7. Cagar numa casa-de-banho nova é um acto inesquecível. Do género de ir a uma sala de espectáculos pela 1a. vez, não se esquece.
8. O tempo da cagada dita o tipo de ligação que a pessoa tem com os excrementos. Uma pessoa que lê um artigo completo na sanita está bem à vontade com a sua porcaria enquanto uma que senta-caga-e-foge, do género de maratona de ready-set-go, "não está nem aì" para a razão de cagar e provavelmente é meio-púdica e apressada.
9. O número de dedos utilizados para limpar o anús (técnica do gancho) é também um factor crucial nesta investigação.
10. Usar a expressão "vou ali evacuar" fica sempre bem.

Conclusões:
Tecnicamente faria mais sentido limpar pela frente, contudo parece desonesto e um pouco abichanado. Como se estivessemos a fazer batota e o risco está em ficar com algo mais sujo do que apenas o cú. Limpar por trás é mais rápido e take-away. Mais despachativo e "seguro". Talvez seja digno de personalidades mais fortes e activas.
Falar sobre merda é característica de pessoa com complexos numa outra àrea corporal qualquer que pode não ser a do recto. Do género de conversas de "fui ali obrar e estou uma nova pessoa", as in: "tenho uma borbulha prestes a rebentar no meio do nariz mas estou a fingir que me sinto super bem e à vontade comigo próprio/a". À superficie é tudo limpinho mas grandes diarreias se escondem por detrás de tal à vontade pseudo-realista.
Agora que se aproxima o Natal, época em que se coma porcaria suficiente para sufocar um porco preto obeso em três tempos, quando forem cagar pensem no assunto seriamente.
Por fim, o pensamento final que conclui esta Teoria hiper-estruturada pertence a Ernest Hemingway: "The first draft of anything is shit". Exemplo desta Teoria.

 

Mécanosphère - Delírios Viscerais

Foi com um entusiasmo contagiante que sai ontem do Instituto Franco-Português depois de uma hora e picos de uma performance alucinante!
Adolfo Luxúria Canibal leu-nos poesia, textos interventivos de Jeremy Bentham e do Livro das máquinas de Samuel Butler com manipulações de gravações das vozes de Foucault e J.G Ballard (o tal senhor que escreveu "Crash", posteriormente adaptado por Cronenberg). O resto dos companheiros estiveram ainda melhor!
Tendo como mote um colóquio internacional para homenagear Michel Foucault, os Méchanosphère viveram à altura dos acontecimentos presenteando os não mais de 80 espectadores com uma performance recheada de desarmonias, cut-beats, som electrónico, jazz, dub (momentos compulsivos!), house, rap, noise, industrial, repetições... Música livre, experimental, música de acidente. Música resultante do momento e das gravitações e explosões completamente improvisadas e que ganhavam forma num sistema fechado e no entanto tão aberto. Tudo profundamente vivo, orgânico, forte, in-your-face e literário. Os músicos em palco eram todos solistas e front-mans, com funções não definidas e que se espicaçavam mutuamente no sentido de fazer prevalecer o seu próprio caminho e estímulos. Abstraccionismo no seu estado puro.
A parte rítmica estava avassaladora, e o espéctaculo foi marcante!
"Vigiar e Punir" foram a temática do concerto, obra central de Foucault, e a contra-resposta foi muita loucura, ecleticismo, feedback, pratos a voar, caixas de ritmo a cairem no chão, manequins a serem sodomizados, microfones na boca e no cú, tambores na 1a fila... Coca-cola por cima das máquinas, random-reading, free association, cordas partidas, loops, fuzz, gritos, etc.
O irracional ganhou forma e ritmo. Assistiu-se a momentos de pura inconsciência e transe sonoro. Teatro do absurdo.
Estes senhores merecem atenção. Não exclusivamente pela música mas mais pela atitude artística que encorporam. É bom assistir a ataques viscerais de loucura sabendo que na cabeça de 5 pessoas não está apenas noise, mas muito conteúdo válido e latente à espera de ganhar forma no mundo real. Tive de me conter para não intervir.
Mécanosphère não é música, é anti-música. Anti-civilização, desordem. Um cabaret voltaire de libertação, literatura e caos.
Como diria Bakunin, "a destruição também é criação".

12/14/2005 

Morte Anunciada - Relato na 1a. Pessoa

E foi assim que finalmente morreu.
Estava estática. Parada. Fria. Azulada. Intermitente. Pesada. Quadrada. Firmemente inumana e esteticamente fria. Era tristemante reconhecível. E morta. Finalmente morta na minha cabeça. Uma obra de arte só minha. Privada. Sem local, sem espaço, sem peso. Simplesmente morta.
A tensão era elevada. Estava cheia de um vazio mecânico, de uma política que cegava os olhos e fazia sangrar o nariz. Os electro-choques interrompem o racíocinio interior. Quebra nos sentidos. A imagem domina a palavra. Os sons transgridem o pensamento. As cores sobrepõem-se aos sentidos. E o corpo, esse volátil receptáculo insatisfeito, deixa-se contagiar pelo virus enjoativo - normalmente o mais próximo - de fácil acesso. Na cabeça domina um estado dormente e latente. Um atraso progressivo do agora. Escondem-se os medos e fobias. Alimenta-se um presente distante, onde não se conhece a essência. Não se conhece nada. Nem se percebe porque se desconhece.
Não aguentei mais, tive de a matar.
Atirei-a.
Apertei-a com violência e luxúria.
Useia-a e deitei fora.
Mordia-a com força até sentir na boca e nas mãos o líquido que tanto me entusiasma. "Bom desayuno!", grunhi ao ver os vidros partidos e a liberdade de voltar a ser um homem livre. Puxei as cordas do estendal até não puder mais. Partiram e chicotearam-me a cara. Ri-me de saber que isto ia acontecer. Nas portas bati com os pés e as janelas fechei até se quebrarem em pequenos cacos que reluziam no sol que batia no chão. Tirei a camisola e fui ilustrar o corpo com sinais de poder. Voltei a ser um animal. Mandalas que adornam um pacote direccionado para o desejo escorrem-me dos braços e face. Corrupção da natureza. Crescimento inverso. Satisfação!
E estava morta. Finalmente morta e parada.
Apeteceu-me escrever. Pintar. Borrar as paredes. Esfregar e chafurdar tudo como se quisesse estravazar os sentidos e embriagar-me num plano irracional e portanto livre, experimental, desconhecido. Quebrar a casca do Ovo. Estava em vácuo. O receptáculo foi aberto e agora irá entrar ar novo. Limpeza dos póros. Overdose dos sentidos. Coragem. Medo de projectar a verdade. Ninguém está preparado mas todos desejam fazer o mesmo. O caos comanda agora. Tudo é permitido. A vontade e desejo é total e imparável! Instinto selvagem limpa os canais e empurra os intintos à toa da pele. Transpira-se extravagãncia saudável e intocável para o mundano cidadão da porta-do-lado.
No espelho vejo-me novo. Gosto do que vejo por não ser arranjado e portanto natural. Por não ser pensado previamente. Por desconhecer. Os raros e poucos momentos de naturalidade são absurdamente inesquecíveis. A beleza É a naturalidade.
Viro-me e continuo a desbravar caminho pelas paredes da casa que me levam à cama de 1,40x2,00 metros. Deito-me. Ou melhor, deixo-me cair. Posição fetal. Preciso daquilo. Vejo o tecto. Apalpo o sexo. As mãos na cara. Aperto forte. Agarro um livro, olho as palavras... Sinto repugnância pelo escape ilusório de uma junção de letras que geram sentidos tão universalmente comuns. Sinto-me acima daquilo. Capaz de escrever melhor e dar um novo sentido às coisas. Viro-me. Rio de tudo inclusivé do próprio som do riso que ecoa na cabeça durante breves momentos.
Agora que morreu posso estar bem comigo mesmo. Não quero estar longe. Não odeio a morte e destruição. É parte de mim. Com todos os defeitos e paradoxos que reconheço e portanto me irritam. O desastre é inevitável. Guerra e discussão e tristeza também. O tempo não para. Nada para. A mente não para. As máquinas não param. Os conflictos não param. O crescimento não para.
A morte não para.
E tudo o resto cresce, desenvove e é consumido.
A morte tem a fome do tempo.

12/13/2005 

Auto Retrato

 

Who said I am a (deformed) Man?

 

Enquanto Dorme

 

All Seeing Fish















inspired on Lovecraft's mythos

 

Study for the Symbolic Representation of 3















for Ju

 

Good Looking Woman Make Good Sketches

12/12/2005 

Revisão 2005

Está a ser um ano de muita coisa boa. Fartura, variedade, projecção... E se continuar neste ritmo é de prever bastantes surpresas.

Houve loucura inteligente, felicidade próspera e muitos pontos acentes que criam bases para um 2006 a rasgar de potencialidades pessoais.

Em 2005 casei-me. Comprei casa. Passei a efectivo no trabalho. Pintei que me fartei, larguei por outro lado um pouco a fotografia. Comecei este blog. Fiz trabalhos video. Conheci pessoas interessantes e motivadoras. Viajei que me fartei por Portugal (Alentejo, Algarve, Porto), Europa (Paris, Roma, Sevilha), e Brasil (São Paulo e Bahia).
2005 foi o ano das viagens e da arte. Fui a imensas exposições, espectáculos, teatros, cinemas, enfim, uma panóplia de acontecimentos culturais.

Este ano quebrei imensos preconceitos sociais, relacionais, familiares e mais uma vez: pessoais.
Bebi até acabar num duche nú de água fria, chorei de felicidade ao sol, fodi tantricamente bem, droguei-me libertamente, gritei de raiva e contenção, assustei melindrosamente várias pessoas... Um ano do caralhão.

Os objectivos vindouros são simples e atingiveis: verdade (sinceridade pessoal), arte (exteriorização máxima de ideias e essência) e amor (liberdade, prazer, partilha).

12/09/2005 

"Cut-Up" Joy

"Take and eat, this is my body."
Now bow down, roll-over, bend forth and crawl on thy knees. Is that jolly good fun for you?

Realize: all knowledge systems (both traditional and modern) must embody principles of self-destruction.
The body of christ is the bread of the hungry and poor. Cannibals on narrow halleys grow thinner and weaker. When you fast, you don’t lose weight: you live in harmony with your body. Space and matter and forms and colours and all that is real becomes an absurd object without ryhthm, weight or even connection with the constant changing sorroundings.

The human flesh is the vessel for the artist. Time is a number-driven system. Mathematical. Logical. Totally mind-based-crap for the body. Then, all of a sudden, the mind kills the body. The body reawakens. Instinctive functions are connected with survival of the body itself. Primal desires are far beyond driven. Children are encouraged to become artists. It's a pulp-fiction of spears piercing through complexity. Plans are never to be heard of again. All there is IS improVISation. A theatre of words. The moment is now and the way it moves procreates even more art and as we observe the images relate with our grandfathers who once died on stage, arenas, beds and locked rooms with their teeth torned up.

The operating room is open. We strongly recommend a tragedy. Apply huge doses of courage and then breath slowly.
Police believe that the man was connected to an organized crime.
Uhh, what an IN-Sight!
Honestly, I believe we are just cut-up fragments of wasted masks waiting to be put on and scare the shit out of properly burning incense.

12/07/2005 

MDMA

MDMA (ecstasy) é uma droga que gera empatia.
Ingerida via oral, sensivelmente meia hora depois os efeitos começam sentir-se e traduzem-se num estado de relaxe, auto-aceitação, conforto, desinibição e calor corporal.
A primeira reacção é por vezes de cagar. O corpo sente-se relaxado e como tal dá vontade de expelir qualquer sensação de desconforto.
As pupilas aumentam. A pessoa fica "aware" e centrada.
Cerca de 45/60 minutos depois a pessoa sente-se à vontade para falar descontraidamente e com um sentido de hiper-realismo que não abunda no quotidiano. MDMA é portanto uma droga que pode e deve ser usada para fins psico-terapeuticos, desbloquear comportamentos prejudiciais ao nível social/relacional e expandir a mente e atitudes com o propósito de melhorar a conduta humana em toda a sua amplitude.
MDMA é uma anfetamina que não causa dependência física mas que deixa a pessoa num bom humour e que como tal apetece repetir a experiência com fins recreativos.
Quando digo bom humour não falo em gargalhadas idiotas, mas sim numa sensação de compreensão "inwards" que nos leva a abrir de dentro para fora lidando com as merdas que tanto se tentam enterrar.
A percepção visual e auditiva é passível de ser alterada (parte da composição deriva de um alucinógenico), assim como o batimento cardíaco aumenta o que habitualmente gera uma certa antecipação e inquietação levando a que o utilisador lhe apeteça mover-se, dançar, mudar de divisão ou simplesmente deitar cá para fora algo que lhe incomode.
É uma droga social. Gera compreensão, carinho, empatia.
No fim dá sono. Um sono pacífico e que limpa o corpo.

12/05/2005 

Sopor Aeternus - Exibicionismo Introvertido

Anna Varney Cantodea é o corpo e mente que materializa um dos projectos mais invulgares e obscuros existentes na cena Darkwave/Folk actual. Não é exagerada a forma de descrição de um conceito artístico que consiste em si mesmo numa forma de terapia corporal, de expurgação de conflictos psico-somáticos derivantes de uma sexualidade problemática, e numa descarga sonora profundamente bela, delicada e autêntica.

- Nascimento e Origens
Sopor Aeternus & The Ensemble of Shadows é um projecto que segundo reza a lenda nasceu em meados de '89 em Frankfurt (Alemanha), derivado de uma procura por fazer algo ainda não antes feito a nível musical. O carácter extremamente depressivo de uma personagem ímpar que se apelida de Anna Varney, um ser biologicamente do sexo masculino que opta por não definir a sexualidade num campo restritivo de feminino/masculino, serve-se assim de Sopor Aeternus (Sono Eterno) como um receptáculo e escape para a sua própria existência, vivendo num mundo imerso em catacumbas onde a morte corporal pretende assumir forma através de uma imagem cadavérica, frágil e atormentada. A dialética gira em volta de um conflicto existente entre os limites corporais de um indivíduo que pretende ser livre de tudo, incluindo do seu corpo, para atingir um estado de paz interior e consequentemente com o universo que o rodeia. A ideia parece derivar de uma procura incorruptível da verdade absoluta e o som resultante é admiravelmente único.

- Casulo Sonoro ou Música para Crianças Mortas
Musicalmente não existe um género no qual seja possível enquadrar a intimidade musical incomparável de Sopor Aeternus; talvez por ser um cruzamento tão bem sucedido de música de câmara com um diálogo lírico perfeitamente construído e embrulhado numa esfera quasi-arquitectónica e cuidadosamente estudada que pouco a pouco vai absorvendo o ouvinte num estado de perfeita satisfação, ou até introspecção. De entre outros instrumentos destaca-se o uso do piano, oboé, trombone, violinos, tuba e de uma secção rítmica onde as harmonias flutuam em uníssono com a voz tortuosa e multi-texturada de Anna Varney. O som percorre caminhos principalmente recheados por instrumentos de sopro e cordas, resultando assim numa viagem auditiva extremamente calma e apaziguadora por oposição à vocalização que impera pela variedade de tons e lamentos. Não é possível, nem minimamente justo, considerar Sopor Aeternus meramente um projecto musical, as barreiras são automaticamente esbatidas através de outras formas de comunicação imagética onde a fotografia, experimentalismo e toda uma panóplia de edições especiais cuidadosamente preparadas reinam para fazer as delícias dos ávidos ouvintes de música entitulada de culto e na maioria dos casos limitada a uma tiragem reduzida de exemplares. Porém, se tentássemos aproximar Sopor Aeternus de qualquer outro grupo musical ou de um imaginário colectivo identificável a olho nú as hipóteses seriam demasiado vagas e ambíguas ao ponto de gerar confusão aparente. Termos como medieval, operático, valsa-fúnebre, barroco, melancólico, clássico, atmosférico, folk, invernal e frágil são talvez alguns dos sinónimos possíveis para ainda assim apedrejar uma forma musical perfeitamente passível de servir de banda sonora para os escritos macabros de Edgar Allan Poe.

- O Corpo é a Cruz
O antigo expressionismo corporal alemão é por exemplo uma identificação aparente, onde uma teatralidade mórbida é exibida num nível assumidamente dramático e homo-erótico. Fruto de uma natureza aparentemente dual, vazia, perturbada, ou simplesmente em constante fricção com a sua essência indefinida e portanto num constante limbo de para-arranca entre aprisionamento terreno e liberdade espiritual. Outra referência incontornável à qual se pode ligar a imagem de Anna Varney é a dança Butho, com origem no Japão pós-Segunda Guerra Mundial, que consiste numa dança performativa praticada nos quatro cantos do planeta tendo como base um corpo pintado de branco, usualmente nú, que teatralmente - de uma forma quase mímica - procura descrever um esvaziamento interior através de movimentos vagarosos, gestos lentos e expressões marcadamente exageradas ao serem sentidas e exteriorizadas.
A primeira performance Butho foi de Kinjiki em 1959, uma pequena peça teatral, sem música, em que um rapaz (Yoshito Ohno) imobiliza uma galinha entre as pernas, estrangulando-a num acto de aparente delírio sexual. Desde então Ankoku Butho (ou "Dance of Darkness") ficou para sempre conotada com um tipo de performance niilista, provocadora e grotesca. Contudo, os elementos deste tipo de dança passam principalmente por um estado de espírito prévio de abstracção que visa anular noções de espaço, forma ou peso resultando assim numa coreografia experimental de expressção fluida, quase de origem aquática, que transcende por completo o público ocidental civilizado. A dança invoca imagens de desespero, decadência, erotismo e êxtase. A prática da dança Butho não requer treino provisório ou requisitos físicos sendo portanto difícil instituicioná-la como uma forma de dança oficial pela sua recusa por etiquetas e igualmente pelo carácter mais catártico e extra-corporal que se recusa enclausurar de acordo com um ensinamento padronizado e não-pessoal.
Em Sopor Aeternus a imagem e a música são indissociáveis, sendo a arte e o artista uma continuação ininterrupta e portanto mais do que uma banda musical estamos perante uma "instalação humana", com todas as benesses e fardos que isto engloba. A dança é vista enquanto um ritual. Ritual este que embarca uma criação artística também de si ritualizada, em que a música é poesia e a poesia é dança, e a dança é movimento...

- Reencarnar, Acordar e Ritualizar
Varney explica a sua ligação artística com a música como sendo a forma mais natural que encontra de servir como receptáculo ou vector para sons e melodias que de alguma forma já foram criados (pela Ensemble of Shadows) e agora estão a ser "recebidos" e interpretados musicalmente, servindo assim de médium/meio canalizador entre uma dimensão astral e a apresentação desnudada destes conceitos ao mundo da matéria. A questão que permanece é: estará o mundo preparado para aceitar a visão deste ser andrógino?
Curioso mencionar que em vários registos se faz um percurso inverso onde faixas antigas são regravadas com novos arranjos e vocalização, um género de up-date obrigatório similar a uma reencarnação, por se sentir haver uma necessidade kármica de concluir uma criação que há primeira ou segunda tentativa não ficou de acordo com o ideal. Como se assistíssemos a uma lavagem de roupa suja com o propósito de superar falhas técnicas, de interpretação, ou meramente um cliché na procura pela perfeição e sinceridade artística. Neste aspecto, entre outros, encontra-se uma coesão artística quase universal que invoca conhecimentos de numerologia, astrologia e espiritualidade oriental, praticando um nível de consciência maturo onde a causa e efeito são faces do mesmo puzzle.
O objectivo primordial de Sopor Aeternus é estrictamente de terapia pessoal. Ao aprofundar conhecimento na obra de Anna Varney entra-se numa constelação onde a autenticidade artística é o leit motif que pretende ser acordado na beleza de não restringir a arte a padrões de conduta sexual, religiosa ou até moral o que faz com que seja um dos projectos mais interessantes do momento e um exemplo irrevogável do casamento entre forma e conteúdo.

- Discografia
"Es Reiten die Toten so Schnell..." (Demo-tape, 1989) - Limitado a 50 cópias
"...Ich tôte Mich Jedesmal aufs Neue, doch ich bin unsterblich, und ich erstehe wieder auf; in einer Vision der Untergangs..." ( CD, 1994)
"Todeswunsch - Sous le Soleil de Saturne" (CD, 1995)
"Ehjeh Ascher Ehjeh" (EP, 1995) - Limitado a 3000 cópias
"The Inexperienced Spiral Traveller" (CD, 1997)
"Voyager" - The Jugglers of Jusa" (CD, 1997) - Limitado a 3000 cópias
"Dead Lovers' Sarabande" (Face One) (CD, 1999)
"Dead Lovers' Sarabande" (Face Two) (CD, 1999)
"Songs from the Inverted Womb" (CD, 2000)
"Es Reiten die Toten so Schnell" (or: the Vampyre Sucking at his own Vein) (CD, 2003)
"La Chambre D'Echo" - Where the Dead Birds Sing" (CD, 2004)
"Flowers in Formaldehyde" (EP, 2004) - Limitado a 2000 cópias
"The Goat / The Bells have Stopped Ringing" (12" Vinyl, 2005) - Limitado a 1000 cópias
"Like a Corpse Standing in Desperation" (Box-Set: CDS+ DVD, 2005)

Web-Site Oficial: www.soporaeternus.de

12/01/2005 

Piu-piu - Folha 1 do Diário de um Blogger Aborrecido

O que é que eu faço no El Corte Ingles às 8 e meia da manhã de um feriado de Dezembro, completamente sozinho, num escritório, a ouvir Cocteau Twins e com uma ressaca de vinho gigantesca que me impede de andar direito?
Gostava de entender qual é o gozo mórbido das condições às quais um gajo se sujeita for some wicked reason.

Um mulher deliciosa em casa, no quente da cama. Um dia com possibilidades de se revelar proveituoso em vários aspectos. Ginásio talvez. Visitar a vóvó talvez. Um amigo que sou capaz de ver. Uma amiga que faz anos. Uma pessoa de quem procuro brincar com a distância to spice things up. Uma outra que vai viajar. E um pateta que está sentado num canto de uma sala, com um caixa de bolos à frente - com 1 único pastel-de-nata - e a enganar-se com a companhia do que escreve num blog que ninguém lê excepto ele mesmo e mais um ou dois outros parlermas...

This one goes down for history. O post mais rídiculo que alguma vez escrevi.

Fuck off, I still have a gift to wrap, snake eyes and sissies to listen and maybe, just maybe... 8 hours to grow my lazy ass on this chair.

O sol rasgava o céu hoje de manhã, parecia um fogueira atrás de uns rochedos. Sol de ferro-batido. E o saxo gemia a 160 na A5 enquanto olhava para o mamómetro de gasolina e pensava que este mês vou atirar dinheiro que se farta para o contentor.
Devo ser das poucas pessoas que não dá valor nenhum ao caralho do dinheiro.

80s bands kick serious asses. O pessoal devia andar muito sozinho ou tudo a dar grandes tampas uns nos outros para compor músicas tão atmosfericamente-melancólicas. E hoje só pensam em sacar mais uns cobres aos idiotas re-editando albuns remasterizados com faixas extra podres.
Ahhh *freshness* o que me lembrei! Ontem o que ri no carro a ouvir Culture Club "I'll Tumble 4 Ya"... Ri que nem um perdido, cantei, dancei... Fuckness. Música gay é muito gay mesmo. E o Boy George é realmente um marco da música gayzola e merecia uma estátua bem no meio do terreiro do paço.
Desculpem, quem é que neste planeta terra canta algo tipo I'll Tumble For Ya?
Faz lembrar um gato gordo de barriga pró ar a pedir que lhe coçem o pêlo com um sorriso de orelha a orelha... Mas não! Esperem! É um gajo vestido que nem uma rag-doll e com make-up de palhaço ! É Boy George! Sim, Boy, não Boyd!

Ikabooh!

E viva o "The Passenger" da Siouxsie, my-all-time-fav-put-me-up tema do momento!