1/29/2007 

"Identidade"


Esta obra vai seguir amanhã para o concurso Prémio Fidelidade Mundial Jovens Pintores 2007. É um tiro no escuro, mas nunca se sabe. Entre apodrecer no sotão e nunca ser visto ou ser avaliado por alguém das artes, venha o diabo e escolha.


Título: "Identidade", Dimensões: 640x460mm aprox.

Técnica: Óleo + Acrílico + Gesso + Cola + Cuspe + Fúria + Dedicação + Moldes + Cera + e sabe-se lá mais o quê... Em tela.

1/27/2007 

Nada Pujante

Estou estupidamente satisfeito com nada. Um nada feito de absolutamente não saber o que fazer e isso não me preocupar.
Parece até quase um erro estar assim: parado e estonteantemente bem. Sabe a prazer. Dá prazer.
Lá fora faz um frio intenso mas raia o sol. Apetece pegar num bloco e desenhar pontos negros numa folha branca. Apetece dormir de um lado do vidro estampado contra o sol... Apenas o corpo desleixado, a natureza rigorosa e majéstica, e conforto silencioso. Tirar partido do silêncio e da vibração da luz. Enjoy the silence.
A sensação de movimento provoca acelaração contínua. Agora é tempo de abrandar, de escrever dois-pontos e descrever ao invés de avançar com a história. É tempo de dar tempo.
Não estou com pachorra nem de foder. Nem mesmo de ir a alguma exposição ou evento de natureza cultural ou artística. Apetece simplesmente partilhar o silêncio e a luz com livros, revistas, uma caneta e talvez até um sono de meio de tarde.
As coisas fúteis também têm interesse. Aliás, sou apaixonado por situações e pessoas normalíssimas. O silêncio tem qualquer coisa de familiar e de uma força pujante.
Chama-se a isto criatividade.

1/21/2007 

Sunday, Bloody Sunday

System failure. My inside is shattered to little pieces.

Reminder:
- Make more friends; you need new people in your life.
- Be less of a control-freak, let-go.
- Be light, spontaneous, joyful.
- Put yourself more into what you do. Believe in what you do!
- Be friendly and open to new suggestions.
- Focus on your goals and take out the attention from your loved ones.
- Be more communicative. Make an effort to speak truly what you think.
- Don't worry with other people's choices. It's their problem.
- Take risks, be creative. Surprise yourself!

It's a shit to know you're wrong and keep acting like you know everything.
Today I had one of the most unhappy situations in my life. I will act against this situation with my utmost power and will. Above all, with truthfulness and intelligence. Commitment is only with myself.

1/20/2007 

Light Against Time - Novidades!

O projecto LAT vai de Santarém para Castelo Branco. Já tenho o cartaz* aprovado e estou muito entuasiasmado por ir conhecer esta cidade. A vereadora do pelouro da cultura foi extremamente simpática e deu-me a escolher qual a galeria da cidade onde queria realizar a exposição. Acabei por escolher a Sala da Nora, no Cine-Teatro por me parecer a mais interessante e intimista. Vou fazer desmontagem de um lado e montagem do outro no mesmo dia, o que quer dizer que vai ser uma aventura de um lado para o outro de carro e com a tralha toda atrás. Entretanto amigos e conhecidos irão receber - espero - convites em casa, caso lhes apeteça ir na próxima sexta-feira, dia 26, até lá.

Ainda sobre o projecto LAT, tenho reunido alguns videos captados em concertos e estou a utilizar o youtube para os tornar acessíveis. A variedade de estilos é grande, por isso vale a pena a visita: http://youtube.com/profile_videos?user=lightagainstime

* em relação aos cartazes da expo, está a ser um desafio bastante interessante desenvolver cartazes que de uma forma muito própria têm evoluido quase expontaneamente dentro de um estilo gráfico distinto e semi-minimalista. A imagem (logotipo, comunicação, etc) tem crescido juntamente com o projecto o que me deixa satisfeito. Sou um bocado control-freak no que toca aos trabalhos que faço, e é porreiro desenvolver design para um projecto meu e não para um cliente como é habitual. Aliás, deve ser a primeira vez que o faço algo sabendo que não tenho uma intenção "comercial" por detrás desse mesmo fim. Um alívio, diga-se! Vale pelo que vale.

 

Venha a Nós o Vosso Reino

Convido-vos a a dar uma vista d'olhos pelo novo projecto que estive a preparar e espero ter acessível ao público em breve.
Trata-se de um conjunto de fotografias de depósitos de donativos existente na Igreja de Alvalade que captou a minha atenção. São "somente" 12 caixinhas que pedem encarecidamente um contributo por parte dos visitantes. Julgamentos à parte, deixo a reflexão por parte do observador.
O projecto é interessante e ao vivo penso que resulta bem por querer ter as fotos numa escala bem grande e também pela ideia de utilizar uma urna no meio da galeria onde as pessoas são convidadas a "pedir um desejo" e escravinhá-lo num bloco, deixando depois no interior da urna, sendo que esta é verdadeira.
Projecto para visualização em: http://nmdesign.org/reino

 

E assim vamos...

Este é o teu funeral
Olha para ti e não sintas pena
És o que foste e o que voltarás a ser

O que importa reside no peito, nas emoções
Seja triste ou alegre não importa
O que importa é sentir, o que importa é estar
E o demais transborda para a cabeça e para o intelecto

Não há nada a perder
Não há nada a ganhar
A chave da vida é saber estar

Vivemos como crianças a construir castelos de areia
Regendo a vontade por números, ambições e aparências
A maior ilusão é não acreditar em ilusões

De essência somos únicos
Temos motivações, ritmos e funções pessoais
Negamos. Negamos tudo
Um dia a dor no peito aperta
Um dia acordamos e nada faz sentido
Um dia... Trocamos as voltas à vida
Um dia escolhemos outro caminho
E assim nos iludimos com novas ambições e desejos

Não há nada a perder
Não há nada a ganhar
A chave da vida é saber estar

Compreende-se então que nada é certo
Que o caminho é o meio e o objectivo em si só
Vê-se então a beleza do nada
Aceitam-se os opostos
Temos vontade de reconciliação
Encontra-se na morte uma enorme promessa de paz
A beleza está em cada fracção de segundo
O agora vale mais que qualquer desejo

Não há nada a perder
Não há nada a ganhar
A chave da vida é saber estar

No final está-se só
E a solidão não magoa
É antes uma voz companheira que nos guia
E os momentos de união são mais importantes
Encontra-se um balanço harmonioso
Conhece-se o eu
E assim vamos...

1/19/2007 

Aniquilação do Ego - 1ª Lição: Identificar o sacana e gozar com ele

Bora lá dar uma lição ao sr. ego!
Então é assim malta: quando estiverem em situações de aflição extrema - e não me refiro a vontade de cagar - mas antes em situações que vos deixariam:
1. Chateados
2. Desapontados
3. Tristes
4. Com raiva
5. Com vontade de gritar
6. Com vontade de chorar
7. Com vontade de dar porrada em alguém
8. Com vontade de buzinar no trânsito
9. Com vontade de tratar alguém mal
10. Com vontade de mandar a vossa namorada dar uma curva
etc etc etc

O que fazer?

GOZAR! Aparvalhar, be smart: don't take yourself too serious!

Um gajo só é tótó quando se chateia! Essa é a mais pura das verdades. Quando uma pessoa se irrita acontece o seguinte:
1. Só diz merda da boca para fora
2. Ofende os outros sabendo que está "quente" e por pura defesa de estar chateado/magoado/irritado whatever. É uma reacção e não algo pensado.
3. Dizem-se e fazem-se coisas idiotas e que por vezes não se tem oportunidade de rectificar.
4. Dá-se importância ao momento e ao que nos foi feito, quando na realidade se trata de um assunto extremamente absurdo e sem sentido.
5. Perde-se IMENSO tempo quando se está chateado ou com fúria. Desperdiçam-se energias que podiam ser empregues de melhor forma.

Ser tótó é isto mesmo: é um gajo agarrar-se ao ego e defender-se. É ser impulsivo e responder às três-pancadas. É ter uma reacção não-pensada e nem sequer questionada, é ser uma máquina que trabalha por se sentir lesada ou ameaçada.
Por isso, proponho (e não escrevi "eu proponho", para não dar atenção ao sacaninha do ego) que se tome reacções contrárias. Que se ridicularize as situações de stress e de alta-tensão (leia-se merda da grossa).

Quando alguém for um perfeito cabrão contigo faz o seguinte: não te chateias. Olha para ele nos olhos e pensa "epá, és um verdadeiro cabrão.." e sem interiorizar o sentimento de raiva age de forma oposta: trata o gajo na boa, ri-te na cara dele, goza com ele "numa boa" e faz-lhe sentir-se um ser ridiculo e parvo e mesquinho. Ser superior à situação não é ser prepotente nem ignorar o que nos vai na alma, é simplesmente ter a capacidade de reagir com inteligência emocional: substituir o sentimento interno básico de contra-reacção e assumir uma posição construtiva.

Alguns exemplos:
1. Um fulano stressadissimo buzia-te no trânsito. O que fazes?
- Dizes adeus e sorris que nem um idiota, buzina-lhe de volta e acenas alegremente como quem diz "olá compadre! também tenho buzinha, olha! bó-bó!"
2. Alguém te faz sentir que não és capaz de cumprir com uma tarefa/trabalho. Isso faz-te sentir mal ou inferior. Diminuido. Como reagir?
- Brincar com a situação e trazer ao de cima o medo e insegurança de sucesso, isto é, aclamar que "epá, se não conseguir fazer isto acho que a minha vida não volta a ser a mesma. Provavelmente nasci para cumprir esta função e vou falhar perante todos vocês, ai ai, meu deus, tenho de ir ali rezar três avé-marias ou vender a alma ao diabo. Ai meu deus cruzes-credo, isto é tarefa para um ser sobredotado.."
3. Uma situação de confronto e tensão, do género: alguém te ameaça de fazer algo que temes
- Mais uma vez: pegar no medo e nas defesas e virá-las do avesso, expôr os podres gozando com eles: dizendo "ai ai, agora é que vou levar na cara... Tens cara de ser mesmo muito mau... Ahaha", isto não só mete o tal ego/medo com o rabo-entre-as-pernas como eleva a pessoa a um nível de confiança que não teria de outra forma. Para admitir e assumir um sentimento é preciso ter uns colhões de aço. É preciso ser corajoso, maduro e não ter medo de se fragilizar. Melhor que tudo: ninguém consegue lixar uma pessoa fragilizada ou francamente verdadeira.

Tendo a capacidade de ver, indentificar e perceber quando estamos numa atitude de guerrilhas, ou na defesa, num confronto, é o primeiro passo para depois entender que essa posição não passa de uma mentira mascarada pela vontade de vingança ou raiva. São sentimentos absurdos e medíocres. Entender que ao agirmos por impulso devolve o mesmo para nós ajuda a parar este ciclo vicioso.
Estou por exemplo a pensar em pessoas que procuram a liberdade e exercem relações de dependência constantes. Isto é, a maioria das vezes procuramos uma libertação de uma prisão criada, construida e defendida por nós mesmos. A responsabilidade dos sentimentos é de cada um. A escolha é alterável.
É preciso entender que a opinião do ego não é realmente uma escolha, trata-se de um mecanismo interno, psicológico, de defesa pessoal. Como quando fechamos os olhos ao atirarem algo na nossa cara. É uma resposta imediata. Mas também é possível meter a mão à frente, virar o corpo, impedir que atirem algo na nossa direcção, etc. É possivel agir com antecedência. É possível TER escolha.
É possível conhecer e aniquilar os mecanismos de acção do ego. Entender que ele existe e passa o tempo em estados de oscilação: ora está em alta, ora está em baixo, como um balão que enche. E quando o ego está em alta não olha a meio para atingir os fins: perdemo-nos à procura de coisas que não entendemos, andamos desorientados e estupidamente consolados.

Turn the other cheek!

1/16/2007 

Argento - Sonhos Macabros

Em meados de 2002 "Suspiria" resgatou o meu interesse por filmes de terror. O responsável é Dario Argento, mestre italiano que filma prodigiosamente um cruzamento de thriller/horror/mistério/policial conhecido como giallo. Recordo-me claramente daquele dia: estava em casa - provavelmente de férias, com pouco para fazer. Deitei-me no sofá e sem grandes expectativas baixei os estores e coloquei a rodela importada no leitor de DVD. Os 98 minutos seguintes foram de delírio total e contagiante. O meu gosto por cinema foi alterado. Estava no verão e fiquei gelado. Lembro-me também que pela primeira vez um filme fez-me levantar e ir beber água, tal era a ansiedade provocada. Senti-me desconfortável, abismado, surpreendido com a vivacidade adjacente à estética de macabro. Um misto de estranheza e fascínio.
"Suspiria" não só me fez descobrir Dario Argento, como me tem mantido interessado pelo género giallo (título que provém das capas/cartazes amarelos característicos destas obras) e pelos diferentes realizadores de baixo orçamento oriundos de Itália, caso de Mario Bava, Lucio Fulci, e outros tantos dementes cinéfilos com idade para já terem juízo e deixarem de brincar a Hitchcocks europeus com um toque de sobrenatural.
Argento nasceu em Roma no ano de 1940, filho do produtor de cinema italiano Salvatore Argento e da modelo Brasileira Elda Luxardo. O seu primeiro êxito deu-se enquanto argumentista juntamente com Bernardo Bertolluci para o filme de Sergio Leone "Once Upon a Time in the West" (1969). Aos 30 anos realizou e escreveu o seu primeiro filme "The Bird with the Crystal Plumage", primeiro da trilogia dos animais, ao qual se seguiram "The Cat o' Nine Tails" (1971) e "Four Flies on Grey Velvet" (1972). Durante este período os filmes de Argento faziam-se acompanhar de uma aura de thriller barroco onde o suspense é o motivo central da obra. A narrativa gira em torno de uma investigação ou mistério por resolver; um puzzle psicológico carregado de mortes elaboradas e mise-en-scène triunfante. Em 1975 estreia "Deep Red" sendo muito bem recebido pela crítica o que cimenta o mestre italiano como pioneiro no género giallo.
Finalmente, em 1977 surge "Suspiria", a grande obra inspirada em contos clássicos dos Grimm, Andersen e Poe, escrito em colaboração com a sua companheira Daria Nicolodi, junção esta também fértil em talento com o nascimento da filha Asia Argento (protagonista em "Marie-Antoinette", "xXx", "Last Days", "New Rose Hotel", etc.)
"Suspiria" marca o início de uma nova fase na carreira de Argento. Não só a nível estilístico como de abordagem temática, buscando influências a territórios do sobrenatural resultando numa imagética mais rica e experimental.
Em "Suspiria" nada se conta como num filme dito comercial ou hollywoodesco. Não existe herói ou anti-herói, e não se trata propriamente de uma demanda do bem contra o mal ou de existir um objectivo anunciado. O ambiente é puramente onírico, e como tal, a sensação subjacente à experiência fílmica é a de estarmos realmente a pairar num limbo absurdo onde os décors parecem pertencer a uma peça de teatro com um design de iluminação exagerado nas cores primárias - que se mostram fortes e esplendorosas - por onde a personagem principal Susie Benson (interpretada por Jessica Harper) divaga em busca de respostas numa mansão gótica supostamente mascarada como academia de ballet. Os tons vermelho, azul e verde são intensos e aumentam drasticamente a tensão presente nos diferentes cenários por onde as personagens deambulam. A banda sonora galopante, interpretada pelo colectivo de rock-sinfónico Goblin, mantém o frenesim e adrenalina bem elevados logo desde a primeira cena onde se assiste a um assassinato sem igual. O início prepara cedo o espectador para uma dose valente de surpresas e simbiose perfeita entre som e estética.
A história de "Suspiria" é evidentemente estruturada como se de um sonho se tratasse, prima pela não-linearidade deixando muitas pontas ficarem sem nó e o simbolismo abunda onde a lógica mais parece faltar. De calcular que esta desorientação racional seja um motivo de incompreensão do filme, ou por outro uma confirmação de delírio visual sem igual o que o torna o filme precisamente cativante.
Outro ponto forte é a concepção do design de interiores que se foca numa arquitectura povoada por ângulos pontiagudos, formas triangulares acutilantes, espelhos, cortinas e bastantes colunas adornadas. A cor é mais uma vez um elemento chave que transforma o espaço em um teatro vivo surrealista, fruto da mente de um vanguardista histérico.
À superfície, as personagens de "Suspiria" são pouco densas e os diálogos quase inacreditáveis. Mais estranho ainda quando se trata de um filme rodado em várias línguas e depois dobrado com algumas falhas. O espectador é imediatamente apanhado desprevenido pela a mistura do áudio e aparente falha de produção, mas afinal, estamos num filme de Dario Argento, isto não se trata de uma recriação da realidade, mas antes uma construção em formato fantasioso, terra onde os limites racionais não imperam.O facto de estarmos perante uma produção invulgar e quase "familiar" de sub-cinema faz com que se eleve o visionamento a um nível de espanto e entusiasmo maior. Assiste-se a truques e recursos cinematográficos próprios (as mãos do assassino são sempre as mãos de Dario), com uma mestria de realização irrepreensível e característica de cinema de autor. Nos momentos intercalares a uma morte vive-se uma claustrofobia e sensação pendente de mistério extasiante.
Após "Suspiria" Dario continua a realizar inúmeros filmes, entre eles: "Inferno" (1980), "Tenebrae" (1982), "Phenomena" (1985) com Jennifer Connelly, a lista estende-se até à actualidade. Porém, é "Suspiria" que se destaca pela ousada lufada de ar fresco e arriscada criatividade que marcou o género do horror sem deixar precedentes. Aclamado por nomes como Alice Cooper, Clive Barker, John Carpenter ou Quentin Tarantino, o mestre italiano deixa qualquer um a roer as unhas de nervosismo, para ele "o cinema é a dimensão dos sonhos".