8/31/2005 

Human = Virus

"I like to share a revelation that I had during my time here. It came to me when I tried to classify your species. I realised that you're not actually mammal. Every mammal on this planet instinctively developes a natural equilibrium with its surrounding environment, but humans do not. You move to an area and you multiply and multiply until every natural resource is consumed. The only way to survive is to spread to another area. There is another organism on this planet that follows the same pattern. [...] a virus."

- Agent Smith in "The Matrix"

8/29/2005 

Igualdade ou Consequência

"Each man kills the thing he loves..." - Oscar Wilde

Tenho a ligeira impressão de que quanto mais próximos estamos afectivamente de uma pessoa mais a queremos alterar.

Existe um impulso natural inexplicável que faz com que queiramos que as pessoas sejam iguais a nós. Queremos ouvir da boca delas aquilo que lhes dizemos e gostavamos que as nossas acções fossem de facto o comportamento exercido pelos outros.
Quando estamos próximos de um familiar ou de um companheiro ou amigo deixamos de falar e pensar como pessoas individuais, compreensivas e com vontades autónomas. Parece que deixamos de nos aceitar como somos: todos diferentes; passamos a exigir que se comportem de acordo com expectativas próprias - que não são as mesmas da outra pessoa -e culpamo-nos a nós ou aos outros se não corresponder com o que era ideal.
Na verdade, vestimos uma capa onde domina o EU. Tornamo-nos o extremo mais distante da inteligência e passamos a comportar-nos que nem bébes mimados onde apenas existe o EU, a MINHA vontade e a MINHA maneira. Entra-se num campo onde absurdamente queremos fazer valer a VONTADE que nos assombra e o ego é o deus supremo que comanda.

Fácil é moldar o outro ou mantermo-nos inalteráveis e estáticos à espera que tudo mude. Dificil é romper com os padrões de comportamento de nós mesmos.

A velha teoria de causa-efeito é nada mais que uma bola de neve constante.
Se a causa (vamos assumir que é um comportamento sobre alguém) é à partida egoísta e individualista não se pode exigir do outro um comportamento compreensivo; primeiro porque não o fomos de ínicio e segundo porque não é do direito de ninguém exigir nada ao outro.
Quero com isto dizer que a individualidade e força de carácter é na grande maioria dos casos um aniquilador de relações sociais/amorosas a longo-termo. Aliás, é sabido e notório que grande parte das pessoas com uma personalidade mais vincada têem traços assumidamente anti-sociais ou padrões psicopatas.
Naturalmente que para a pessoa em causa, a individualista, não haverá uma percepção da sua falha, pois simplesmente se foi afastando de um grupo de pessoas arranjando desculpas para consigo mesmo em relação ao fracasso. Essas desculpas passam por declarações idiotas do género de "EU sou assim"; "é como EU sou", ou "tens de me aceitar como EU sou." Qual a interpretação que se pode fazer senão a de uma pessoa fixa sobre si mesma e que aniquila as hipóteses de adaptação com o meio que a rodeia?
Pelo contrário, isto é um gerador de conflictos e mau-estar apesar de ser um dinamite em pessoa e com potencialidades e garra acima da média.
A resposta e solução está numa procura de um ponto de equilibrio. A mudança TEM de partir da PRÓPRIA pessoa, é como deixar de fumar ou fazer dieta, tem de haver uma VONTADE própria connosco para se querer assumir esse compromisso e mais ainda, tem de se ACREDITAR nesse voto de vontade.

Temos de voltar à escola para aprender tudo de novo, mas desta feita é uma reconstrução daquilo que já assimilamos anteriormente.
Quando deixarmos de críticar, deixaremos de prestar atenção ás críticas.

8/18/2005 

Continuum

From a perfect circle a little spider strechted for light and made a wish: "In a ray of sun let us find peace of mind", she thought to herself, "wherein we can dwell in circles endlessely, forever turning within the same axis".

From above a voice came: "As if something could change without some action! Invest in dynamics if changes are required. But don't expect nothing!
If zero is a lot, little will be surprising, and even if nothing is in fact what you truly wish for, many things will somehow appear on your way."

The little creature asked astonished: "Who are you who speaks so directely into my being?"

The voice echoed: "I am the one who was, who is, and forever will be..."

8/08/2005 

...na Umbigo

O texto "A Poltrona" vai ser editado no próximo número da Revista Umbigo (http://umbigomagazine.com/) juntamente com uma foto ilustrativa do mesmo autor.
A iniciativa de propagar alguns textos para as massas partiu da minha parte e se a motivação o permitir irei extender o virus da palavra por outras revistas, jornais e/ou suplementos que se mostrem interessados e se enquadrem minimamente no contexto dos textos.
Fico satisfeito pelo saudosista convite de Miguel de Matos, director editorial, que se mostrou acessível e surpreendido e acima de tudo marca o principio de um objectivo alcançado da minha parte: partilhar ideias com pessoas de gostos artisticos semelhantes.

8/06/2005 

Filhos

Compreendi ontem verdadeiramente - embora não na totalidade - qual o sentimento associado ao desejo de ter um filho.
Objectivamente falando, os pais pretendem vivenciar um mundo já não atingivél para eles (falo de uma percepção ingénua) através de uma extensão que lhes é do próprio sangue; a ponte entre um mundo novo e uma vida reconhecida é-lhes mostrada e experienciada em conjunto com uma criatura que em tudo lhes parece semelhante e reage da mesma forma.
O risco permanece em conseguir criar um elo de disassociação de uma criação em tudo abusrdamente perfeita. Para os pais, os filhos são um contentor para encher de expectativas do maior grau, e o problema reside precisamente neste ponto, pois apesar de não pôr em causa a felicidade que um filho deve trazer, ponho em causa o discernimento por parte dos pais no que consta à forma como este é tratado e as escolhas que faz. É muito complicado para os pais verem os filhos como individuos próprios e singulares.
Não se trata de uma rebelião nem muito menos de incompreensão quando os filhos atingem uma idade onde os "porquês" são substituidos por actos absolutamente independentes, o que acontece é um não-acompanhamento desse crescimento por parte dos pais. Não pretendo ofender nenhum pai mas é preciso compreender que um filho não é meramente um "complemento" do casal, ou muitas vezes uma bengala para uma relação já fracassada. A beleza de desejar ter um filho reside, na minha opinião muito leiga, no facto de intensificar o contacto com a realidade através de um ser que nos mantém constantemente em contacto com realidades já distantes ou de deficil acesso por variadas razões de ordem social. O contemplar do crescimento e desenvolvimento de um filho, sem querer nomear nenhum estágio em particular, permite aos pais despertar sensações adormecidas de um passado distante - ou não - e talvez até descobrir outras novas, porém é importante não esquecer que esse ser não é uma máquina de produzir felicidade nem muito menos deve ser desculpa para frustrações pessoais.
O relacionamento entre pais e filhos é complexo e no meu ver ainda algo obscurecido por padrões de comportamentos que envolvem terceiros (familiares e educadores) o que complica a tarefa aos progenitores.

Como sempre, tudo depende da perspectiva com que olhamos sobre o tema, e neste caso em especifico, que me parece sensivelmente delicado, acho que a melhor hipótese será entender um filho como uma nova fase de vida para a família e individualmente para cada um dos pais. Uma nova fase para aprender a descobrir o que significa ser humano, ver o mundo com outros olhos e acima de tudo depositar confiança em algo tão nobre e que hoje em dia requer é esquecido e requer tomates de ferro: mostrar que é possível vivenciar as coisas de uma forma diferente de gerações anteriores, aceitável socialmente e que irá de alguma forma inspirar mudanças em quem nos rodeia.

PS: Pessoalmente acho que é impossível prever quando existe o tal batimento do "relógio biológico", nem sequer sei se isso existe apenas na mulher ou igualmente no homem, ou se se trata de um "batimento" conjunto, either ways, acho que como em tudo na vida nunca se está absolutamente preparado para esse acontecimento, o importante é abracá-lo da melhor forma e como diz a música "come what may..".
Quero apenas aproveitar para comentar o que muito ouço falar sobre "idades": acho ridiculamente patético falar-se em idades para ter filhos, porque é impossível destacar uma idade aceitável nos dias que correm onde existem pessoas de 20 e poucos anos com vidas feitas e pessoas com 30s e muitos com vidas ainda a começar. Cada caso é um caso e nada deve ser condenável à partida. O importante é lidar com o assunto de cabeça fria e ser sincero connosco próprios.

8/03/2005 

Antony - Um Pássaro Caído

Não é à toa que os maiores génios só são reconhecidos após terem morrido. Compreendo agora que o mérito de grandes artistas só é lembrado após a sua morte por a genlidade co-existir num tempo absurdamente descontextualizado de época. O nova-iorquino Antony é um destes excepcionais casos que alia sensibilidade e dramatismo neo-clássico a uma musicalidade rica em nostalgia e um sentimento profundamente trágico praticamente inexistente nos dias que correm.
A voz de Antony move-se num campo nebuloso: em partes soa um rapaz maduro de um coiro gospel - as influências de música negra/soul são nítidas - noutras treme timidamente num falseto carregado de riqueza emocional vinda directamente das entranhas de um ser andrógena em desespero de causa; Mas no fim, sempre estranhamente controlado e com um registo de delicadeza acima da fasquia músical que ocupa espaço nas lojas de música tradicionais.
Antony conta-nos histórias de um mundo marcadamente crítico no que consta a divisões de géneros, sendo o artista o exemplo levado à cruz para de uma forma autobiográfica expor com exactidão os melodramas consequentes de uma devastadora e sincera verdade existente na sociedade actual - o preconceito sexual.
Em “I am a Bird Now”, o segundo albúm de longa-duração após um interim de praticamente 5 anos, Antony volta à carga com uma postura decididamente mais assumida e carregada de melodias tristes e orientadas por as teclas de um piano que anda de mão dada com a voz dominante do compositor.
A capacidade de libertação/expurgação é genuína e como tal transforma a percepção passiva do mero ouvinte num autêntico depósito catársico a transbordar de melancolia negra e sofredora. Em balanço com o albúm homónimo, “I am a Bird Now” é mais simples e move-se num território mais arejado e acústico mas nem por isso menos dramático ou sincero. Temas como “My Lady Story” ou “For Today I am a Boy” mostram a presença e capacidade vocal de Antony claramente como um marco distinto e único no panorama da música alternativa actual.
Antony e alguns dos seus músicos visitaram novamente Portugal em Maio para uma noite quente em emoções no povoado auditório da Aula Magna. Como de habitual, a simpatia de Antony insistiu em quebrar o gelo conclusivo das músicas carregadas de tensão sempre com uma fragilidade e hesitação característico da sua pessoa, estabelecendo uma intimidade provocadora no sentido de preparar as massas para um próximo tema onde a voz e o silêncio se experava forte e extenso, quase inconfortável de contemplar.
A fabulosa interpretação de “The Lake” (Edgar Allan Poe, 1827) foi suficiente para fazer caír por terra a alma de qualquer apreciador de música de qualidade, as palavras evocadas no silêncio do auditório continham a força de um poeta morto e a subtileza de um performer adulto - simplesmente arrebatador.
A arte é feita de novas formas de expressão; quer através de técnicas previamente utilizadas, ou de uma fórmula reaproveitada. No caso de Antony e os seus Johnsons, o cocktail é composto por elementos mistos: roça-se o campo da inocência lírica e pura de um pássaro caído em terra desconhecida e o conhecimento profundo de uma solidão que necessita ganhar voz a qualquer custo. Admirável!
Site Oficial: http://antonyandthejohnsons.com