9/30/2005 

Comunicar - A Magia em Formato de Palavras

Quero falar de palavras. Do poder enigmático por detrás do acto de despejar sons para o silêncio.

Quer queiram ou não acreditar falar é um acto de pura magia.
A linguagem está munida de intenções, desejos e todo o tipo de sentimentos humanóides em geral. O que dizemos e como falamos exprime a forma como somos interiormente. Reflecte a sensibilidade, abruptidão ou ignorância que habita no interior de cada um.

Quero alertar que as palavras que saem da nossa boca são depósitos ou sementes que co-habitam no mundo da matéria. Os sons que usamos para comunicar são interpretados pelo nosso corpo, pelos nossos sensores auditivos e por sua vez afloram em estímulos e em acções, logo afectam imediatamente neste mesmo campo, no da matéria.
Quando falamos, discutimos ou fazemos uso da comunicação verbal ou literária estamos a fazer uso de um canal para chegar a um destino. Habitualmente conhece-se o remetente/orador, o canal/meio e o destinatário quando se trata de meios pre-formatados (TV, Rádios, Jornais, etc), contudo a comunicação pessoa-pessoa é diferente da comunicação meio-pessoa, ou vice-versa.

Sabemos também que a voz de algumas pessoas é mais agradável ao ouvido do que a de outras. Sabemos igualmente que determinadas palavras nos tocam de forma especial ou possuem um significado inerente que nos toca de forma particularmente intensa. Sabemos que a mesma coisa soa diferente dito por outra pessoa. Porquê?
Porque será que ouvir determinadas frases da pessoa amada, ou de um pai, ou de um colega de trabalho têm significados diferentes?

Na comunicação pessoa-pessoa o meio não é um canal pre-formatado, é impossível delinear uma regra na qual qualquer pessoa se insira ou com a qual esteja à vontade. Os símbolos e imagens que criamos e associamos à nossa linguagem própria e às palavras que usamos diferem dos símbolos da outra pessoa em questão.

É aqui que entra a Magia como universo paralelo similar. Depositar força, energia e estar à vontade com as palavras nada mais é que um acto simbólico e derivado do interior - quer seja psicológico ou sentimental - que irá percorrer um meio indestinto (o real) e tomar efeito num mundo interior diferente daquele donde teve origem.
Analisando racionalmente, as palavras são escritas e aparentemente iguais para toda a gente, o que difere são as intenções com que são ditas; intenções leia-se: ritmo, cor, melodia, energia, imagem que criam na mente do destinatária... Logo vejam se isto não é Magia!

Vamos supor o seguinte exemplo: sofremos um estímulo do exterior, este é interpretado intelectualmente, hormonalmente, racionalmente, instintivamente, INTERNAMENTE... E outros mentes. O estímulo assume forma através de um acto MATERIAL/REAL: outra palavra em retorno, mexer uma perna, dar um murro, dar um beijo, pintar um quadro - seja o que for! Trata-se de um sinal que é gerado e emitido para o real sem conhecer a forma como vai ser recepcionado. É um risco!
Digamos que eu funciono numa frequência A/M em que emito sinais a uma velocidade veloz. Se o destino é uma pessoa que só interpreta frequências F/M estamos literalmente lixados à partida, independentemente da velocidade. Isto seria o exemplo típico de línguas diferentes, contudo dentro do mesmo sinal existem também graus que variam e merecem ser ajustados.

Conhecem os "fala-baratos"? Em que é que será que estas pessoas diferem de outras mais caladas? Será um conhecimento do mecanismo de comunicação e uma sensibilidade interior diferente, ou meramente um traço de personalidade?
Será que a pessoa que fala menos é meramente mais acanhada ou será uma gestão de palavras, tempo e intenções? Será um truque?
E a pessoa que fala mais tem algum problema de falta de confiança ou atenção ou meramente precisa de descarregar mais de si mesma para o exterior para assim se compreender ou ver reflectida?
Dá que pensar.

E comunicar sem recorrer à linguagem verbal, será possível na integra? Será mais verdadeiro?

Em suma, o que pretendo aqui alertar é que o que dizemos afecta a quem o dizemos. Afecta o mundo real e não só o mundo das palavras. As palavras ganham vida por si mesmas e geram novos significados por serem multi-subjectivas. Be careful with what you say/wish, it might come true.

Some things are better left unsaid.

9/02/2005 

Pause

Quantas vezes durante o dia consegues fazer um pause em ti e no que te rodeia?

Após leres este texto experimenta excluir-te do mundo por alguns breves instantes.
Clica o botão de pause nessa cabecinha e a próxima conversa que tiveres experimenta ouvir REALMENTE o que te estão a dizer. Vais-te aperceber da quantidade de palavras soltas e sem sentido que saem da boca das pessoas, vais ouvir frases que não querem dizer nada e são só para encher o silêncio. Vais-te aperceber que te apetece responder mas que aquilo que irás dizer NÃO é realmente aquilo que a outra pessoa estava a falar mas sim o que TU querias dizer sobre o assunto. É a TUA opinião e NÃO é o mesmo que a pessoa estava a falar. É muito raro entrarmos num registo onde nos abstraímos individualmente simplesmente para OUVIR.

Experimenta fazer um pause agora.
Olha em teu redor... Vês pessoas? Ouves sons? Tens o rato na mão? Estás conforável? Sentes as coisas paradas ou em movimento?
Sentes que giras com o mundo e as pessoas, que acompanhas o ritmo do universo?
O que estás a fazer por ti hoje, agora? O que fizeste por ti ontem?

É bom de vez enquando fazer um pause ou mesmo um restart e começar de novo. Limpar o sistema para não haver um alienamento daquilo que sentimos de verdade connosco próprios. Dizemos muita merda que na verdade não acreditamos ou com a qual não concordamos e fazêmo-lo somente por perguiça mental ou por ser a forma mais fácil - e demorada - de atingir algum fim.

Fazer um pause no meio do caos que é o dia-a-dia é estarmos connosco próprios por alguns segundos.
É estabelecermos fronteiras com aquilo que permitimos que aconteça.

Pergunto de novo: quantas vezes durante o dia consegues fazer um pause em ti e no que te rodeia?
Respeitas-te? Ouves-te?

Existe um provérbio que diz: "quem vai à guerra vai e leva".
Pois bem, só a dar e a levar é que vamos a algum lado e antes ir a algum lado do que ficar aqui eternamente em pause.
Mas experimenta... Experimenta fazer um pause e ser apenas um vulto. Ao observares as pessoas vais observar-te também a ti próprio/a.