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12/16/2005 

Mécanosphère - Delírios Viscerais

Foi com um entusiasmo contagiante que sai ontem do Instituto Franco-Português depois de uma hora e picos de uma performance alucinante!
Adolfo Luxúria Canibal leu-nos poesia, textos interventivos de Jeremy Bentham e do Livro das máquinas de Samuel Butler com manipulações de gravações das vozes de Foucault e J.G Ballard (o tal senhor que escreveu "Crash", posteriormente adaptado por Cronenberg). O resto dos companheiros estiveram ainda melhor!
Tendo como mote um colóquio internacional para homenagear Michel Foucault, os Méchanosphère viveram à altura dos acontecimentos presenteando os não mais de 80 espectadores com uma performance recheada de desarmonias, cut-beats, som electrónico, jazz, dub (momentos compulsivos!), house, rap, noise, industrial, repetições... Música livre, experimental, música de acidente. Música resultante do momento e das gravitações e explosões completamente improvisadas e que ganhavam forma num sistema fechado e no entanto tão aberto. Tudo profundamente vivo, orgânico, forte, in-your-face e literário. Os músicos em palco eram todos solistas e front-mans, com funções não definidas e que se espicaçavam mutuamente no sentido de fazer prevalecer o seu próprio caminho e estímulos. Abstraccionismo no seu estado puro.
A parte rítmica estava avassaladora, e o espéctaculo foi marcante!
"Vigiar e Punir" foram a temática do concerto, obra central de Foucault, e a contra-resposta foi muita loucura, ecleticismo, feedback, pratos a voar, caixas de ritmo a cairem no chão, manequins a serem sodomizados, microfones na boca e no cú, tambores na 1a fila... Coca-cola por cima das máquinas, random-reading, free association, cordas partidas, loops, fuzz, gritos, etc.
O irracional ganhou forma e ritmo. Assistiu-se a momentos de pura inconsciência e transe sonoro. Teatro do absurdo.
Estes senhores merecem atenção. Não exclusivamente pela música mas mais pela atitude artística que encorporam. É bom assistir a ataques viscerais de loucura sabendo que na cabeça de 5 pessoas não está apenas noise, mas muito conteúdo válido e latente à espera de ganhar forma no mundo real. Tive de me conter para não intervir.
Mécanosphère não é música, é anti-música. Anti-civilização, desordem. Um cabaret voltaire de libertação, literatura e caos.
Como diria Bakunin, "a destruição também é criação".