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5/12/2005 

Solidão V2.0

Ultimamente tenho-me sentido sozinho.

Uma solidão diferente daquela que conhecia por não ser desesperante ou incomodativa, é uma solidão vazia, sem sentido, sem razão. Deixa-me atento ao que se passa à minha volta - às pessoas, sinais e comportamentos - e faz-me ver melhor o que quero e se estou a proceder de forma sensata. Esta solidão faz-me um pouco mais intuitivo e menos dado a actos mecânicos desprovidos de sensação ou causa.
É uma solidão pacifica comigo e consequentemente com quem me rodeia pois sinto que aprendi a aceitar as pessoas à minha volta.

Acho que vou começar a ler mais e a passar mais tempo comigo mesmo. Isto não é sinónimo de isolamento, meramente de uma solidão nova que passa a ser parte integrante do meu ser, como se entendesse finalmente que tudo passa por mim e que dependo apenas de mim e daquilo que quero e faz mover a minha vontade.
De certa forma é um retorno aquilo que era, mas de uma forma mais matura e sofisticada. Mais inteligente também.
No meio de tantas mudanças na minha vida - todas parecem ser um passo natural num caminho indefinido - acho que me esqueci como se passa tempo sozinho, tenho tido o previlégio de ter sempre alguém ao meu lado. É uma necessidade, admito.

Já não perco tempo com sensações de angústia, perda, valor, medo, reconhecimento, enfim, tudo aquilo que me possa afectar minimamente tento observar de fora e compreender que são sentimentos passageiros, que não me devo identificar e deixar o sentimento por si só dissipar. Se não alimentarmos a paranóia ela deixa de existir. E melhor ainda, quando essa "paranóia" desaparece tomo consciência do absurdo que era.

Ontem estava na casa-de-banho com a Re a limpar umas calças, e às tantas ela diz "tu não te importas muito com a roupa, não é..." e aquela frase entrou dentro de mim porque pensei, "eu não me importo muito com nada". Fiquei calado porque não queria que ela sentisse que não me importo com ela, pois na realidade importo, só que é dificil de explicar este sentimento. Penso que ela sabe como sou e me compreende, e penso que (ela) é igualmente uma pessoa individualista.

Sentir-me sozinho afasta-me de quem amo mas deixa-me numa posição em que sei amar melhor. *
Fico também melhor comigo mesmo.

* Ontem li uma passagem de um livro do Miguel Estevez Cardoso em que ele falava do 1º amor, e referia-se precisamente a este tipo de assunto: que o 1º amor é sempre louco e desvairado, e cheio de baboseiras e actos simplesmente deliciosos. Mas só depois de haver esse 1º amor, ou 2º amor, ou uns quantos amores, é que se começa a saber amar realmente. Porque se compreende que gostar de uma pessoa é mais do que fogo de vista.