Laranja Mecânica - Qual o Limite da Liberdade?
Banido em Inglaterra até à morte de Stanley Kubrick em 1999, "Laranja Mecânica" é provavelmente o primeiro filme a criar debate relativamente à forma como a violência é abordada no cinema, sendo a estética explicitamente livre e não obedecendo a qualquer tipo de padrões estabelecidos ou sequer justificados pelo autor.
Logo desde cedo, os críticos condenaram Kubrick e durante anos este pareceu indiferente ao facto de ter de assumir uma atitude explicativa ou mesmo moralista e psicológica quando na verdade o desafio do filme reside em deixar o espectador tomar uma posição a favor ou contra a personagem principal, um jovem delinquente, de nome Alex (Malcom McDowell) e os droogs, seus partners de crime, que formam um gang em constante procura por destruição.
Se existe um filme que descreve a mentalidade e caos pós-revolução sexual herdado dos anos sessenta, "Laranja Mecânica" é sem duvida o exemplo máximo. Na época seguinte, particularmente no final dos anos setenta, assiste-se a uma nova viragem no relógio humano, consumada por uma exploração vertiginosa dos tabus ligados ao corpo, à geração hippie e à afirmação desmedida do sexo e violência no cinema e artes experimentais. Igualmente, a nível social, assiste-se a um renovar de ideias liberais que o génio cinematográfico de Kubrick eleva ao cubo e não tem medo de mostrar numa obra marcadamente crítica e que subliminarmente vai dando umas facadas numa visão decadente da sociedade contemporânea.
Anthony Burgess, o autor do romance original escrito em 1962, descreve precisamente uma sociedade onde o crime e a injustiça parecem formar uma mescla que se auto-regenera através de acções recíprocas e interdependentes. Juntamente com Alex, o epicentro narrador do filme, o espectador encontra-se numa posição privilegiada de voyeur onde assiste avidamente ora através dos relatos de Alex na primeira pessoa, ou de uma forma omnipresente, a sucessivos espancamentos, violações e crimes que aos olhos do autor parecem a criação de perfeitas obras de arte. Contudo, a paixão suprema consuma-se a ouvir a "Nona Sinfonia" de Beethoven deliciosamente subvertida por Wendy Carlos na banda-sonora. Nesta insana boémia Alex é posteriormente abandonado pelos seus droogs e preso; sendo condenado a uma terapia de reabilitação, Ludovico, que o curará da sua rebelião e desejos anti-sociais.
Alex é submetido a uma droga, amarrado a uma cadeira onde permanece forçadamente de olhos abertos a assistir a filmes violentos enquanto ouve a sua amada "Nona Sinfonia" de Beethoven. Quase se poderia considerar obra do destino mas após breves sessões os resultados em Alex são de aparente nojo e convulsão com um simples pensamento sobre sexo, violência ou a "Nona".
Aaron Stern, o antigo presidente da Comissão de Classificaçã da MPAA, que também exerce psiquiatria, sugeriu que Alex representa o inconsciente: o homem no seu estado natural. Depois de lhe ter sido aplicada a "cura" Ludovico, ele ficou "civilizado", e a má disposição que se lhe segue pode ser vista como uma neurose imposta pela sociedade.
O que importa realçar em "Laranja Mecânica" não é a glorificação da ultra-violência existente nas personagens que dão vida a esta história ou o brilhante papel de Malcom McDowell, mas sim os tópicos aqui abordados em paralelo e que parecem ecoar ainda hoje, praticamente três décadas mais tarde. A liberdade física e mental é algo que qualquer homem procura preservar e a escolha de valores próprios dita qual a fronteira ética e moral permitida entre a decisão consciente de um individuo e dos seus actos e a confrontação com modelos de justiça inseridos em sistemas já de si corruptos por natureza.
"Quando um homem deixa de poder escolher, deixa de ser homem", este é o mistério a ser revelado em "Laranja Mecânica" e que explora a variedade da condição humana. Kubrick recusa-se a tomar um partido emocional e a querer fazer passar um código de conduta, logo o espectador é forçado a manter-se fiel à sua própria opinião enquanto assiste ao filme, e isto provoca uma confrontação pessoal constante fazendo de "Laranja Mecânica" um filme desorientador e uma experiência fora do vulgar.
O tom de paródia sarcástica em que Kubrick investiu mostra a força de uma natureza maléfica que não consegue ser transgredida obstante de lavagens cerebrais e métodos de choque extremos. A essência de um indivíduo é marcada por afirmações de diferentes ordens, sendo a violência o sexo e as artes alguns dos catalisadores encontrados por Alex para se afirmar e fazer valer o seu ímpeto carnal e personalidade irascível.
"Laranja Mecânica" invoca também a ideia da possibilidade de um mundo sem violência, um futuro utópico onde não existe nada para além de opressão, revolta e oportunismo, rejeitando assim uma sociedade onde o conflicto é livre de ser questionado. O filme centra-se ainda na esperança de uma civilização passível de ser aperfeiçoada, conceito que a indústria cinematográfica e os grandes estúdios podem optar por mostrar sendo que são um veículo numa posição inquestionável de comunicação com as grandes massas, no entanto esta filosofia nunca poder· servir como instrumento de mudança concreta no mundo real pois esta evolução depende apenas e somente do indivíduo e da sua consciência.
Logo desde cedo, os críticos condenaram Kubrick e durante anos este pareceu indiferente ao facto de ter de assumir uma atitude explicativa ou mesmo moralista e psicológica quando na verdade o desafio do filme reside em deixar o espectador tomar uma posição a favor ou contra a personagem principal, um jovem delinquente, de nome Alex (Malcom McDowell) e os droogs, seus partners de crime, que formam um gang em constante procura por destruição.
Se existe um filme que descreve a mentalidade e caos pós-revolução sexual herdado dos anos sessenta, "Laranja Mecânica" é sem duvida o exemplo máximo. Na época seguinte, particularmente no final dos anos setenta, assiste-se a uma nova viragem no relógio humano, consumada por uma exploração vertiginosa dos tabus ligados ao corpo, à geração hippie e à afirmação desmedida do sexo e violência no cinema e artes experimentais. Igualmente, a nível social, assiste-se a um renovar de ideias liberais que o génio cinematográfico de Kubrick eleva ao cubo e não tem medo de mostrar numa obra marcadamente crítica e que subliminarmente vai dando umas facadas numa visão decadente da sociedade contemporânea.
Anthony Burgess, o autor do romance original escrito em 1962, descreve precisamente uma sociedade onde o crime e a injustiça parecem formar uma mescla que se auto-regenera através de acções recíprocas e interdependentes. Juntamente com Alex, o epicentro narrador do filme, o espectador encontra-se numa posição privilegiada de voyeur onde assiste avidamente ora através dos relatos de Alex na primeira pessoa, ou de uma forma omnipresente, a sucessivos espancamentos, violações e crimes que aos olhos do autor parecem a criação de perfeitas obras de arte. Contudo, a paixão suprema consuma-se a ouvir a "Nona Sinfonia" de Beethoven deliciosamente subvertida por Wendy Carlos na banda-sonora. Nesta insana boémia Alex é posteriormente abandonado pelos seus droogs e preso; sendo condenado a uma terapia de reabilitação, Ludovico, que o curará da sua rebelião e desejos anti-sociais.
Alex é submetido a uma droga, amarrado a uma cadeira onde permanece forçadamente de olhos abertos a assistir a filmes violentos enquanto ouve a sua amada "Nona Sinfonia" de Beethoven. Quase se poderia considerar obra do destino mas após breves sessões os resultados em Alex são de aparente nojo e convulsão com um simples pensamento sobre sexo, violência ou a "Nona".
Aaron Stern, o antigo presidente da Comissão de Classificaçã da MPAA, que também exerce psiquiatria, sugeriu que Alex representa o inconsciente: o homem no seu estado natural. Depois de lhe ter sido aplicada a "cura" Ludovico, ele ficou "civilizado", e a má disposição que se lhe segue pode ser vista como uma neurose imposta pela sociedade.
O que importa realçar em "Laranja Mecânica" não é a glorificação da ultra-violência existente nas personagens que dão vida a esta história ou o brilhante papel de Malcom McDowell, mas sim os tópicos aqui abordados em paralelo e que parecem ecoar ainda hoje, praticamente três décadas mais tarde. A liberdade física e mental é algo que qualquer homem procura preservar e a escolha de valores próprios dita qual a fronteira ética e moral permitida entre a decisão consciente de um individuo e dos seus actos e a confrontação com modelos de justiça inseridos em sistemas já de si corruptos por natureza.
"Quando um homem deixa de poder escolher, deixa de ser homem", este é o mistério a ser revelado em "Laranja Mecânica" e que explora a variedade da condição humana. Kubrick recusa-se a tomar um partido emocional e a querer fazer passar um código de conduta, logo o espectador é forçado a manter-se fiel à sua própria opinião enquanto assiste ao filme, e isto provoca uma confrontação pessoal constante fazendo de "Laranja Mecânica" um filme desorientador e uma experiência fora do vulgar.
O tom de paródia sarcástica em que Kubrick investiu mostra a força de uma natureza maléfica que não consegue ser transgredida obstante de lavagens cerebrais e métodos de choque extremos. A essência de um indivíduo é marcada por afirmações de diferentes ordens, sendo a violência o sexo e as artes alguns dos catalisadores encontrados por Alex para se afirmar e fazer valer o seu ímpeto carnal e personalidade irascível.
"Laranja Mecânica" invoca também a ideia da possibilidade de um mundo sem violência, um futuro utópico onde não existe nada para além de opressão, revolta e oportunismo, rejeitando assim uma sociedade onde o conflicto é livre de ser questionado. O filme centra-se ainda na esperança de uma civilização passível de ser aperfeiçoada, conceito que a indústria cinematográfica e os grandes estúdios podem optar por mostrar sendo que são um veículo numa posição inquestionável de comunicação com as grandes massas, no entanto esta filosofia nunca poder· servir como instrumento de mudança concreta no mundo real pois esta evolução depende apenas e somente do indivíduo e da sua consciência.
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