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4/21/2005 

Egoísmo

Quando se ama realmente uma pessoa deixamos de ser egoístas.

O egoísmo é pensarmos no que determinada acção nos faz sentir e querermos impor um condicionamento automático ao que por si só é naturalmente perfeito.

Sentir pena pelas outros, por exemplo, é na realidade querer que sintam pena de nós se estivessemos perante situação idêntica. É essa a razão porque as pessoas choram nos casamentos e funerais, porque a emoção que elas sentem - para além de já ser automatizada e derivar de uma tradição sócio-religiosa absurda - seria o sentimento de retorno que gostariam de ter dos outros. E porquê?
Porque existe uma carência de afecto geral. O toque humano é cada vez mais algo perigoso e território desconhecido. Tocar alguém na pele é como invadir ou violar a santidade de um ser. Como se estivessemos a passar alguma doença mortal ou herpes genitais numa simples carência na face.

Por sua vez a indústria do sexo cresce a ritmo vertiginoso, e com um fundamento bem enraízado, pois numa sociedade em que o toque é reprimido os extremos fortalecem e apesar do sexo ser um acto saudável e natural, vira por completo num culto do silicone e do bizarro. Em que tudo o que está em falta vira um show de malabaristas avantajados e anoréticas moldadas segundo padrões completamente fora do que seria considerado normal.

É importanto porém salientar a diferença entre individualismo e egoísmo. Existe uma enorme confusão de termos e isso leva a interpretações não concensuais.
Individualismo - de uma forma bruta - é nada mais que pensar e agir de acordo com impulsos e estructuras mentais específicas ao individuo, isto é: particulares, únicas, de essência. Mas não esquecer: o indíviduo é uma construção; não é algo inato. O individuo é mutável e cultiva-se, para mais tarde se alterar e quiça aniquiliar. "Deus está morto" é a radicalização desta compreensão vinda da boca do homem que analisou o Eu-pessoa até ás entranhas.
Egoísmo aparenta ter muitas formas, ora assumidamente tacanha e unidireccional, onde apenas existe aquilo que a pessoa lhe interessa ou que enxerga (ou não), ora um egoísmo ligado à libido e vontade, um tal de que Crowley falava e com o qual não me oponho por acreditar que na realidade está primeiro o indivíduo a qualquer outra coisa.

Tenho discutido isto e tentado fazer com que seja ponto acente na cabeça das pessoas que me rodeiam, pois é fundamental entender que não pode existir anulação de nós para fazer prevalecer a vontade de outros. Primeiro está a nossa vontade, o que nos faz sentir bem e traz felicidade momentária, depois está a vontade dos que amamos ou de amigos.
Se existe uma castração ou incompreensão de terceiros perante a busca por aquilo que nos faz sentir bem é porque realmente existe egoísmo presente. Quando alguém ama verdadeiramente compreende e aceita a vontade do outro mesmo que esta seja contrária à sua, isso é gostar de verdade, sem esperar retorno e sem exigir que exista equivalência de sentimentos. Não se pode pedir algo que não existe, muito menos algum sentimento que é produzido por nós e que esperamos existir dos outros.

Somos todos diferentes e a beleza reside precisamente no complemento e aceitação das nossas falhas e não na procura pela igualdade quanto esta é utópica e uma constante luta contra algo inalterável ou que apenas gera ruptura.