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4/20/2005 

Do Outro até Mim

Já te viste reflectido/a em alguém? Já te viste através de outra pessoa?

Penso estar perto da consciência plena, daquela que me liberta do que é "meu", e me mantém perto com o Eu=Individuo.
Começo a ver em algumas pessoas características idênticas às minhas, deixo de olhar apenas para o meu umbigo e de ter conversas em que apenas prevalece a "minha" opinião.
Começo a ouvir realmente o que as pessoas dizem, e o mais giro é que não tenho resposta, limito-me a sorrir e pensar para comigo: "como eu te entendo."
E não quero ser arrogante mas é muito bonito não ter nada para responder, simplesmente sorrir ou pousar a mão num ombro ou olhar com compreensão o próximo. O silêncio é-me tão familiar.
Isto começa também a acontecer-me com uma pessoa de família, de uma nova família não daquela que herdei, e devo dizer que apesar de todas as diferenças culturais e mesmo havendo uma estructura de pensamento diferente, e objectivos de vida diferentes, é bom haver esse ponto em comum, porque é algo precioso, pertence a um campo válido: ao das emoções, ao espiritual. E só por isso vale a pena essa pessoa ter cruzado a minha vida.

Vinha no elevador e encontrei uma senhora de cabelos brancos que me fez lembrar a minha mulher. Olhei-a com toda a atenção possível e haviam traços demasiado evidentes para não ser ela. Foi como se o universo tivesse disposto de frente a mim uma peça do jogo para ver se eu estava atento, e desta vez estava.
Fiquei radiante com o que vi, melhorou imenso o meu dia apenas por ter visto uma desconhecida que me fez pensar.
Melhor ainda: a senhora levantava o queixo com confiança de si mesma, apesar de toda a diferença e "extravagância" (que redundante!) estílistica com que se apresentava. Tudo me fez lembrar a minha companheira, as roupas, o físico, a cara, a postura... E no final havia tanta felicidade, calma e incerteza. Consegui sentir através de outra pessoa qual seria um possível crescimento de alguém que me é tão querido. Aquela viagem de elevador valeu por hoje ter acordado.

Começo a acreditar - não de forma muito convicta - que através dos Outros resolvemos problemas nossos. Às vezes até acho que os Outros resolvem os nossos problemas se estivermos dispostos a colaborar, ouvir e deixar entrar novos pensamentos, acções, ideias, sugestões.
O ser humano é demasiado atado e auto-centrado para conseguir ver-se completamente fora da própria esfera, eu bem me esforço mas apenas em alguns momentos de pura consciência o consigo e se me deixo caír em demasia nesse estado de alerta constante corro o risco de ver o mundo para sempre desencantado, sem expressão, sem opinião, quase sem sentimentos. Não me assusta, mas já reparei que assusta um pouco quem me rodeia, e isso tem efeitos aos quais não estou preparado para responder. Porque como vou explicar que o importante para mim não é a minha opinião ou a minha escolha mas sim a compreensão da não-escolha e da não-opinião, e que isso sim me liberta. . .

Sinto falta de mais actos concretos; de mais acções. Do género de "ainda daí e vamos andar um pouco para algum lado..." Sem destino, sem grandes merdas. Simplesmente andar e ver onde vamos parar.

À minha volta tento passar mais do que apenas palpites como tinha feito no passado. Agora tento ser um pouco mais directo, pois sinto falta de expressar fisicamente aquilo que sou/represento/tenho a fazer. E vejo que as pessoas não estão preparadas, ou não estão no momento, para me ouvir e entender. Tudo bem, não há problema, espero ao menos que um dia determinadas coisas façam click naquelas cabeças e que então me considerem válido.

É curioso como tenho vindo a pensar na importância que tem para mim marcar a minha presença nesta vida. Sinto profundamente que tenho algo muito intenso, crú, subtil, complexo e próprio para mostrar. Ainda não sei qual é o formato, ou qual vai ser o resultado/mensagem, mas sei que acima de tudo vai ser importante para mim, e se fizer a diferença em mim, irá concerteza afectar tudo o resto.

Acreditar numa ideia é por si só fazer com que ela exista.
Nunca digas que não ao que não conheces, eu vou tentar fazer o mesmo.