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1/13/2006 

The Wall

Estou em crise.
O meu crescimento foi deveras fora do vulgar. Sempre aceitei de bom grado e vi como uma mais valia o facto de ter crescido afastado de um grupo de amigos grande, de festas, saídas à noite e um contacto com o social alargado. No meu ver, sempre tive conhecimentos adquiridos em duplicado por ter passado tempo comigo mesmo, tempo para me conhecer (a ler livros interessantes, ver filmes, escutar imensa música - tudo de natureza obscura e alternativa aos circuitos mainstream e populares...). Distanciei-me. Isto ajudou-me a saber quem era, ou a construir algo em que acreditar para ganhar confiança para a vida. Por outro lado, desperdiçei uma outra vivência com a qual não me identificava e com a qual não sentia necessidade de viver. Não acreditei em outra forma de estar e considerei rídiculo quem se iludia com grandes noites de copos e não se confrontava consigo mesmo. Achava mesmo imaturo pois sabia que mais tarde ou mais cedo essas pessoas seriam forçadas, de uma forma mais dolorosa, a fazer o mesmo que eu.
Contudo, nunca imaginei que eu teria de fazer o processo inverso. E que só conhecendo ambos os caminhos posso aniquilar ambas as formas de estar.

Cresci.
Acontece que sempre que necessitei de produzir algo no real - profissionalmente, academicamente, whatever - sempre o fiz tendo como base um refugio pessoal. O mesmo no qual aprendi a crescer e conviver. O meu casulo. A minha maneira de fazer as coisas.
Sempre que precisei de fazer um trabalho dependia somente de mim mesmo e estava fechado a opiniões exteriores. Responsabilizo-me pelo que faço. Quem sabe MELHOR o que é necessário alcançar do que EU mesmo? Sempre recusei opinião exterior na produção de algo pessoal. Faço o que tenho a fazer, de forma despegada. Assimilo, executo, e deposito o resultado. Volto à minha esfera e continuo. Sou extremamente EXIGENTE comigo mesmo. Sei o que quero e como obtê-lo. Sou realista. Mas não sou realista quando chega ao ponto de CONCRETIZAÇÃO. Tenho uma tendência para criar uma barreira firme e instrasmissivel entre aquilo em que acredito e a sociedade vigente. E como tal, muitas vezes é real para mim algo que foi apenas pensado ou experienciado. E na verdade, não existem provas físicas que me comprovem o mesmo. Compreendi finalmente a necessidade do crucifixo para materializar a fé. Faço o mesmo, mas sempre ignorei a necessidade de uma comprovação física que reafirma uma interior.
Quando é necessário produzir algo retomo ao meu casulo, invoco um estado de espirito especifico (leia-se: especial) e trabalho comigo mesmo. O que habitualmente SAI cá para fora é no mínimo invulgar e como tal faz a diferença. Sinto-me BEM e aliviado por isso. A expurgação traz paz e crescimento.

Actualmente, vejo-me num ponto da minha vida em que por razões que desconheço preciso extravazar a fronteira que eu próprio criei entre mundo interior e exterior. Sempre acreditei que uma coisa não era compatível com a outra e como tal gerei um gap entre as duas realidades: inwards e outwards. Isto tinha as suas vantagens, pois tudo se transformava em algo com identidade própria, e tinha as desvantagens de cada criação ser uma acto isolado e que dificilmente vivia para além de um curto espaço de tempo. Na realidade, o trabalho consistia em FAZÊ-LO - no trabalho em si - e não em expô-lo ou ganhar aceitação e afirmação no exterior. Caso dos textos que escrevi, das fanzines que elaborei, das fotos que tirei ou dos quadros que pintei. Tudo isso parece que foram criações que apesar de físicas nunca existiram realmente out there. O que é feito de tudo isso? Só eu conheço, o feedback é pouco ou nulo... O que me adianta para além de auto-satisfação?
As transformações que sofri, o crescimento e vida adulta fazém com que seja insuportável continuar a distanciar os dois mundos. Sinto uma necessidade crescente e agoniante de fundir o meu mundo interior e as minhas ideias com o meu estilo de vida corrente. O problema nasce aqui: nesta falta de confiança num entendimento entre os dois mundos. Não tenho provas comprovadas que seja possível e aceitável ser 100% verdadeiro no mundo social (do trabalho e convivência) e esvaziar as minhas ideias invulgares e comentários acutilantes a toda a hora. Sinto falta de confiança.
Não tenho incapacidade em fazer o que tenho para fazer pois as coisas brotam involuntariamente. Não sinto receio em me expor. Pelo contrário, é um desafio magnifico. Pior que isso: vejo-me com medo de não ser aceite ou a coisa não funcionar e desmoronar toda a estrutura e sistema que construi até agora. Quando falo nisto sinto-me um adolescente naquelas crises idiotas e dramáticas de aceitação. Logo eu que nunca quis ser aceite e me orgulhava de tal.
Compreendo agora que tudo aquilo que defendi como o que tinha de mais querido: o meu mundo interior, imaginativo e esquizofrénico, está a ser um impedimento para que consiga transformar-me naquilo que acredito e quero para mim: ser uma obra de arte viva e ininterrupta.
Em tudo o que faço acredito ser possível fazê-lo de forma ritualista, com um significado superior e fruto de uma BELEZA derivada de uma sensibilidade e percepção que nasce na interacção do mais profundo intimo do inviduo com o real. Quero que isto seja feito de forma natural. 24 horas por dia. E que não existam interrupções por estar a trabalhar, por tratar alguém de forma diferente, por criar impedimentos que só me oprimem.

Projecto neste momento, através destas palavras, um desejo de aniquilar a fronteira entre interior e exterior. Acredito ser possível criar e reinventar o meu estilo de vida. Preciso destas mudanças para me sentir bem comigo mesmo e ser útil. Para EVOLUIR.
Tudo aquilo que tentei preservar estou agora a pedir que seja exposto e que tenha feedback. Vou tentar progressivamente depositar mais vestigios e obras no decorrer do tempo. Vou deixar que as minhas produções sejam abertas a opiniões e sugestões. Para ser eu próprio non-stop preciso crucialmente (e cruelmente) de ser natural e ver-me como apenas a outra face da mesma moeda com a qual sinto antipatia. Que a arte obscura que cultivo está aberta a qualquer pessoa independentemente de haver quem a entenda e outra grande parte que não a aceita. Vou precisar de PARTILHAR para ir buscar força e raiva e inspiração na NÃO-ACEITAÇÃO tal como o fiz no passado através dos meus pais, autoridades ou religião.
Não quero que a arte seja universal. Mas quero que esteja acessível a TODOS.
Não me compete a mim preocupar-me com interpretações, apenas com a SEMENTE.

Sinto-me um pouco melhor. Mas o caminho é longo...